Uma análise ao que esperam ainda Benfica, FC Porto e Sporting numa fase decisiva da época. E os bons exemplos de Artur Jorge e João Neves

Depois de uma jornada europeia positiva, onde infelizmente o SC Braga ficou pelo caminho no último minuto, aproximam-se semanas intensas. Os três grandes, que estão em todas as frentes (campeonato, Taça de Portugal e competições europeias), vão ter uma carga competitiva muito intensa, com jogos decisivos e de grau de dificuldade elevado. De uma forma racional, podemos analisar cada uma das equipas e perceber quais são as que estão mais bem preparadas para os obstáculos que vão ter pela frente. Esta análise deverá ter em conta que o futebol não é matemática e que tudo muda muito rapidamente. Contudo, também é fundamental ter a noção de que aqueles que trabalham melhor estão mais perto do sucesso!

Benfica: o que esperar?

Esta época nunca sabemos qual a cara que o Benfica vai apresentar. Tanto faz um jogo equilibrado como a seguir tem outra exibição menos conseguida. Esta discrepância tem a ver com a forma como os jogos são preparados. A incerteza em torno das opções de Roger Schmidt, ao longo de todo o ano, não tem ajudado. Conforme tenho referido, coletivamente, a equipa não apresenta nem consistência nem melhorias. Depois de uma goleada contra o Vizela qual o motivo para o Benfica ter feito uma exibição tão frágil frente ao Toulouse? Um dos fatores que diferencia os treinadores uns dos outros é a leitura de jogo, dentro do relvado e na preparação dos desafios. Ora, este é um dos pontos em que o treinador encarnado demonstra debilidades. O jogo com o Toulouse é um exemplo claro. Depois de uma vitória folgada contra o Vizela, Roger Schmidt não percebeu que essa vitória aconteceu não só por mérito do Benfica mas também porque pela frente teve um dos adversários mais frágeis da nossa (pouco competitiva) Liga. Não perceber que o Benfica é muito superior a 15 clubes em Portugal é não ter a noção da realidade. Dito isto, o treinador encarnado, em função do resultado do fim de semana, adotou a mesma estratégia para o jogo da Liga Europa. É verdade que o Toulouse não é nenhum tubarão, mas em casa consegue criar um ambiente adverso e, temos de reconhecer, é muito superior ao Vizela. As equipas que vencem consecutivamente são aquelas que têm um processo definido, que sabem avaliar a realidade, que conhecem os adversários e que não se deixam iludir com um ou outro jogo. Juntando a tudo isto, temos algumas decisões, no mínimo, questionáveis, como a saída de Aursnes das opções iniciais ou mesmo a substituição de Arthur Cabral, que estava a passar pelo seu melhor momento, por Tengstedt! A realidade é que, felizmente para o treinador encarnado, o Benfica tem um plantel com enorme qualidade que vai resolvendo individualmente os jogos nas competições internas. A grande questão que se coloca é: apenas a qualidade individual dos jogadores será suficiente para o Benfica alcançar os objetivos, frente a adversários bem trabalhados e com qualidade similar?

FC Porto: a recuperação da confiança

O FC Porto, versão Liga dos Campeões, voltou a aparecer frente ao Arsenal. O jogo foi muito bem preparado. Sérgio Conceição conseguiu limitar o espaço de ação de Martinelli e Saka e, em simultâneo, preparar a saída para o ataque com o posicionamento defensivo de Francisco, Galeno e Pepê. Defendeu preparando o ataque. Foi humilde, deu a bola ao adversário, teve de saber esperar pelo seu momento, foi intenso, foi focado e concentrado durante todo o jogo. Esta foi a grande diferença deste para os jogos contra o Barcelona. No jogo de quarta-feira passada não existiram erros individuais que comprometessem o coletivo. O compromisso dos jogadores e dos adeptos foi total. A confiança aumentou numa altura importante da época até porque, no próximo domingo, o FC_Porto recebe o Benfica e esse jogo pode ter um papel importante na luta pelo primeiro, segundo e terceiro lugares. Para que o jogo com o Arsenal possa ser um empurrão para a fase final da época, será fundamental para o FC_Porto vencer hoje em Barcelos e na quinta-feira nos Açores…

Sporting: mais garantias

O Sporting tem sido a equipa mais consistente esta época. Raramente apresenta oscilações. Tem uma dinâmica de jogo bem trabalhada e rotinada. Tem vindo a rodar todo o plantel, o que permite que, neste momento, tenha muitos jogadores em boa forma e com capacidade para resolver. Coletivamente, em Portugal, é a equipa mais fiável. As próximas semanas vão ser intensas e decisivas para os objetivos do Sporting. O ponto de partida é muito positivo. Porém, convém não esquecer que estamos em Portugal e que dadas as desigualdades entre grandes e pequenos, tudo se pode resolver num jogo apenas. Na próxima quinta-feira teremos a primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal entre Sporting e Benfica. Desportivamente todos percebemos a dimensão do jogo em causa. A vertente anímica também não deve ser descurada. Uma vitória, de qualquer um dos lados, será uma injeção de confiança e motivação para o difícil calendário que ambos têm pela frente. Contudo, antes desse esperado desafio o Sporting terá de continuar a fazer o seu trabalho em Vila do Conde. Posteriormente, na quinta-feira, iremos perceber quem vence: a qualidade individual ao serviço do coletivo (Sporting) ou um Benfica muito dependente da imaginação, inspiração e individualidade.

Artur Jorge

Foi marcante no desporto. Enorme jogador e com uma carreira marcante como treinador. O primeiro treinador português a vencer a Taça dos Campeões Europeus e um dos primeiros a abrir as portas do mundo aos treinadores portugueses. Contudo, gostava de destacar o lado fora do relvado. Tinha uma cultura acima da média, com um enorme gosto pelas artes, pintura e poesia. Já na altura tinha um perfil muito diferente dentro do mundo do futebol. Não teve uma vida fácil. Tenho pena que se afastem do futebol pessoas que pensam de forma diferente. Tenho pena que as devidas homenagens só surjam depois da morte. Num mundo cada vez mais rápido e instantâneo é muito importante não esquecer aqueles que, pela sua presença, desempenho e capacidade contribuíram para a evolução do desporto e da sociedade.

O sorriso do João Neves

João Neves recebeu a pior notícia. Perder uma mãe com 19 anos é muito duro. As mães e os pais são os nossos pilares ao longo da vida. Todos percebemos que o João é um menino bem formado, com os valores bem presentes. Humilde, trabalhador, dedicado, confiante, que não se atemoriza e que respeita todos com quem interage. A maturidade que apresenta aos 19 anos é invulgar. Uma grande parte desta personalidade é mérito dos seus pais e daqueles que estão à sua volta. Sem dúvida que este foi um grande soco no estômago. O que espero e desejo é que o João e a sua família (irmã principalmente) se consigam manter estáveis. Há poucos jogadores que conseguem jogar com um sorriso nos lábios e que conseguem criar uma empatia instantânea com todos os adeptos. O João é esse jogador. No final do jogo com o Toulouse o João Neves proporcionou-nos uma imagem real, dura mas incrível. Mesmo com todos estes acontecimentos o miúdo foi para o relvado para homenagear a sua mãe. O que desejo é que esta tristeza possa ser o combustível para o João poder ter a carreira que todos lhe perspetivamos. Por fim, não posso deixar de valorizar a solidariedade de muitos dos seus colegas. Pedro Gonçalves deu o exemplo. Rivais dentro do relvado, unidos e solidários fora das quatro linhas. Arrisco-me a dizer que se dessem mais tempo de antena aos protagonistas, e não aos dirigentes, o futebol em Portugal já estaria com outro rumo….

QOSHE - Semana de emoções fortes - Diogo Luís
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Semana de emoções fortes

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25.02.2024

Uma análise ao que esperam ainda Benfica, FC Porto e Sporting numa fase decisiva da época. E os bons exemplos de Artur Jorge e João Neves

Depois de uma jornada europeia positiva, onde infelizmente o SC Braga ficou pelo caminho no último minuto, aproximam-se semanas intensas. Os três grandes, que estão em todas as frentes (campeonato, Taça de Portugal e competições europeias), vão ter uma carga competitiva muito intensa, com jogos decisivos e de grau de dificuldade elevado. De uma forma racional, podemos analisar cada uma das equipas e perceber quais são as que estão mais bem preparadas para os obstáculos que vão ter pela frente. Esta análise deverá ter em conta que o futebol não é matemática e que tudo muda muito rapidamente. Contudo, também é fundamental ter a noção de que aqueles que trabalham melhor estão mais perto do sucesso!

Benfica: o que esperar?

Esta época nunca sabemos qual a cara que o Benfica vai apresentar. Tanto faz um jogo equilibrado como a seguir tem outra exibição menos conseguida. Esta discrepância tem a ver com a forma como os jogos são preparados. A incerteza em torno das opções de Roger Schmidt, ao longo de todo o ano, não tem ajudado. Conforme tenho referido, coletivamente, a equipa não apresenta nem consistência nem melhorias. Depois de uma goleada contra o Vizela qual o motivo para o Benfica ter feito uma exibição tão frágil frente ao Toulouse? Um dos fatores que diferencia os treinadores uns dos outros é a leitura de jogo, dentro do relvado e na preparação dos desafios. Ora, este é um dos pontos em que o treinador encarnado demonstra debilidades. O jogo com o Toulouse é um exemplo claro. Depois de uma vitória folgada contra o Vizela, Roger Schmidt não percebeu que essa vitória aconteceu não só por mérito do Benfica mas também porque pela frente teve um dos adversários mais frágeis da nossa (pouco competitiva) Liga. Não perceber que o........

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