Em entrevista concedida a meio de comunicação neerlandês, Kokçu foi contundente e deixou vários recados ao Benfica e a Roger Schmidt

Kokçu é, até hoje, a maior contratação do Benfica. Apesar dos seus 23 anos demonstrou no Feyenoord características e potencial que fazem dele um médio diferenciado. Assumiu desde muito novo responsabilidades na equipa neerlandesa, ao ponto de aos 22 anos ter sido o capitão da equipa que conseguiu vencer com brilhantismo o campeonato neerlandês. Este facto chamou a atenção de muitas equipas europeias que tentaram a contratação do médio. O Benfica antecipou-se e tornou-o no seu maior investimento de sempre num jogador profissional de futebol.

16 março 2024, 07:56

Numa grande entrevista à publicação neerlandesa 'De Telegraaf', o médio internacional turco do Benfica confessa-se revoltado, não poupa Schmidt e reclama maior protagonismo na equipa

Quem analisa as capacidades de Kokçu percebe que estamos na presença de um médio moderno. É um jogador diferenciado. Simplifica as ações da equipa em passe, lê bem o jogo, tem forte remate de fora da área, é comprometido defensivamente com a equipa e tem capacidade para assumir a responsabilidade quando a equipa precisa, apesar dos seus tenros 23 anos.

Não se trata de um atleta que desequilibre no um contra um e, por esse motivo, nem todos conseguem analisar de uma forma imediata a qualidade das suas ações.

No Benfica ainda não conseguiu demonstrar todas as suas qualidades. Podemos sempre tentar justificar este facto com a falta de adaptação, apesar de, na minha opinião, esta ser uma desculpa que não tem lógica. Ao fim de 9 meses a falta de adaptação já não pode ser justificação para a ausência de rendimento que vá ao encontro das expectativas criadas. Contudo, se analisarmos com rigor o trajeto do Benfica e de Kokçu esta época percebemos que a posição que Roger Schmidt lhe atribui em campo não potencia as suas qualidades.

Mais, a forma incerta e desorganizada como a equipa joga, sem uma definição coletiva e com base na inspiração individual, retira a Kokçu espaço para poder ajudar a equipa com o seu futebol. Não deixa de ser interessante que um meio de comunicação neerlandês tenha feito a seguinte afirmação: «Na primeira metade da temporada, vimos Kokçu atrás dos adversários mais do que o contrário…»

Na entrevista concedida a um meio de comunicação neerlandês, Kokçu foi muito contundente. Em primeiro lugar, esta entrevista demonstra alguma indignação por parte do mundo futebolístico nos Países Baixos.

16 março 2024, 08:11

Orkun Kokçu sente que as suas maiores qualidades como jogador não têm sido potencializadas na Luz e está revoltado por não conseguir mostrar realmente que tipo de jogador é

Como é possível que Kokçu não se esteja a conseguir impor? O jogador turco abriu o livro e deixou, diretamente e indiretamente, muitos recados. De uma forma direta, abordou a questão do treinador quando refere que jogou várias vezes contra o Roger Schmidt no campeonato neerlandês e que as suas exibições foram marcantes, logo o treinador alemão deveria saber como o potenciar. Ao fim de 9 meses a desilusão de Kokçu vai neste sentido.

As promessas e as expectativas não corresponderam à posição que ocupa dentro do relvado. O que me parece é que Kokçu deixou no ar que, em função da posição que tem vindo a ocupar no relvado, Roger Schmidt possivelmente não tem noção do seu potencial como jogador, nem onde pode render muito mais. Chega mesmo a deixar um desabafo de «coloquem-me mais à frente!». Para reforçar a sua ideia, Kokçu também faz uma crítica ao clube ao mencionar que tanto o Benfica como o treinador nunca o fizeram sentir-se importante.

Kokçu foi contundente e direto em muitas das respostas que deu, mas, além disso, indiretamente, deixou um conjunto de recados e possíveis interpretações. Juntando dois aspetos que o jogador turco abordou nesta entrevista, podemos perceber como está o estado do balneário encarnado.

Quando o turco refere que ficou com «raiva» e «dececionado» quando foi substituído muitas vezes e quando menciona que um dos seus problemas foi ter sido demasiado modesto com o papel que o treinador lhe deu, está claramente a demonstrar a perceção que tem da gestão que o treinador faz do balneário. De uma forma simples, Kokçu percebeu que, ao não dar um murro na mesa e ao não fazer exigências, foi colocado para segundo plano e facilitou as opções do treinador.

16 março 2024, 13:09

Treinador disse que ainda não leu entrevista ao 'Telegraaf' na qual o médio turco tece duras críticas

Esta questão da substituição e do papel que tem na equipa batem diretamente com o comportamento de Di María logo no primeiro jogo em que Roger Schmidt o tirou do relvado. Nessa altura, o argentino mencionou que não gosta de ser substituído, colocando pressão no treinador.

Ao ficar no seu canto, Kokçu entende que ficou prejudicado face a outros atletas. Estes exemplos são, claramente, uma dura crítica à forma como o treinador alemão gere o balneário, dando a entender que quem não se revolta e não o demonstra fica prejudicado face aos outros.

Será que outros jogadores no plantel encarnado se reveem nas declarações de Kokçu? Parece-me óbvio que sim. O exemplo mais flagrante é o de Arthur Cabral.

Não deixa de ser interessante que dois dos maiores investimentos em contratações de sempre do Benfica sintam que não lhes dão a importância ou o protagonismo devido.

17 março 2024, 09:19

Entrevista não autorizada causa desconforto. Caso analisado internamente e médio pode sofrer consequências e falhar jogo de hoje. Turco não força saída mas deseja mudanças

É verdade que o investimento não faz com que um atleta seja sempre titular. Não me parece que seja isso que está em causa.

O que Kokçu ou o Arthur Cabral sentem é que o treinador não olha para eles da mesma forma que olha para outros. Este também pode ser um ponto perfeitamente normal.

O que complica muito esta forma de gerir do treinador alemão é o facto do Benfica ter investido muito nestes dois atletas, o que por si só, deveria ser um fator de diferenciação. Mais, ao dar a entender isto, percebemos que o balneário encarnado não está tão unido como deveria, sobretudo nos momentos de decisão que agora se aproximam.

Posso ainda dar mais um exemplo de outro jogador que deve sentir o mesmo que Kokçu ou Arthur Cabral. Morato, no início da época, poderia ter dado o salto para o campeonato inglês, de onde chegaram propostas muito interessantes por ele. Roger Schmidt não deixou que o jogador saísse. Analisando a evolução de Morato, nesta época, percebemos que nada correspondeu às expectativas. Sacrificou-se pela equipa a jogar numa posição que não é a sua (lateral-esquerdo). Conseguiu remediar, sem nunca ser uma opção consistente. Neste momento é a terceira opção para lateral-esquerdo (atrás de Aursnes e Carreras) e é a quarta opção para central, como se verificou no jogo em que Otamendi esteve castigado e jogaram António Silva e Tomás Araújo.

Ao sacrificar-se pela equipa, o resultado que Morato teve foi que perdeu protagonismo em todas as suas funções!! Quando os jogadores têm a sensação que deveriam dar murros na mesa para se afirmarem e ganharem status, significa que gestão interna não está no caminho certo.

Esta entrevista de Kokçu não foi inocente. Trata-se de uma estratégia pensada e delineada por si e pelos seus representantes. Ninguém dá uma entrevista com este impacto, nesta fase de decisões da época, sem perceber as consequências. Neste caso, parece-me óbvio o que Kokçu pretende.

Posicionou-se para o futuro, deixando a porta aberta a vários cenários. Ao demonstrar insatisfação e ao reforçar o seu valor com o voto de melhor jogador do campeonato neerlandês do último ano, atribuído por ex-jogadores (de grande qualidade) neerlandeses, está a assumir o seu estatuto e a deixar uma mensagem importante, que passa por se auto colocar disponível para o mercado que está a chegar.

Simultaneamente, dá um grito do Ipiranga e lança um alerta aos responsáveis encarnados que apostaram muito na sua contratação. Contudo, é importante realçar que ao dar esta entrevista, Kokçu está a pensar apenas em si próprio, criando instabilidade na sua entidade patronal. A tarefa da administração, neste caso, não é fácil, uma vez que Kokçu é a maior contratação de sempre do clube. Porém, é importante que todos percebam que ninguém está acima do clube!

Di María tem utilizado muito a expressão «contra tudo e contra todos» sempre que o Benfica perde pontos. Esta entrevista de Kokçu rebate esta ideia do jogador argentino.

Possivelmente, o balneário encarnado não está tão unido, como quer fazer crer Di María nestas mensagens nas redes sociais. O timing da entrevista não podia ser pior para os responsáveis encarnados. Numa fase de grandes decisões, em que a união é fundamental, os adeptos percebem que nem tudo corre bem no interior e na gestão do balneário encarnado. Existe ainda outro risco que é o de outros jogadores, que não estão satisfeitos, poderem vir a demonstrar a sua insatisfação publicamente.

QOSHE - A revolta de Kokçu - Diogo Luís
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A revolta de Kokçu

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17.03.2024

Em entrevista concedida a meio de comunicação neerlandês, Kokçu foi contundente e deixou vários recados ao Benfica e a Roger Schmidt

Kokçu é, até hoje, a maior contratação do Benfica. Apesar dos seus 23 anos demonstrou no Feyenoord características e potencial que fazem dele um médio diferenciado. Assumiu desde muito novo responsabilidades na equipa neerlandesa, ao ponto de aos 22 anos ter sido o capitão da equipa que conseguiu vencer com brilhantismo o campeonato neerlandês. Este facto chamou a atenção de muitas equipas europeias que tentaram a contratação do médio. O Benfica antecipou-se e tornou-o no seu maior investimento de sempre num jogador profissional de futebol.

16 março 2024, 07:56

Numa grande entrevista à publicação neerlandesa 'De Telegraaf', o médio internacional turco do Benfica confessa-se revoltado, não poupa Schmidt e reclama maior protagonismo na equipa

Quem analisa as capacidades de Kokçu percebe que estamos na presença de um médio moderno. É um jogador diferenciado. Simplifica as ações da equipa em passe, lê bem o jogo, tem forte remate de fora da área, é comprometido defensivamente com a equipa e tem capacidade para assumir a responsabilidade quando a equipa precisa, apesar dos seus tenros 23 anos.

Não se trata de um atleta que desequilibre no um contra um e, por esse motivo, nem todos conseguem analisar de uma forma imediata a qualidade das suas ações.

No Benfica ainda não conseguiu demonstrar todas as suas qualidades. Podemos sempre tentar justificar este facto com a falta de adaptação, apesar de, na minha opinião, esta ser uma desculpa que não tem lógica. Ao fim de 9 meses a falta de adaptação já não pode ser justificação para a ausência de rendimento que vá ao encontro das expectativas criadas. Contudo, se analisarmos com rigor o trajeto do Benfica e de Kokçu esta época percebemos que a posição que Roger Schmidt lhe atribui em campo não potencia as suas qualidades.

Mais, a forma incerta e desorganizada como a equipa joga, sem uma definição coletiva e com base na inspiração individual, retira a Kokçu espaço para poder ajudar a equipa com o seu futebol. Não deixa de ser interessante que um meio de comunicação neerlandês tenha feito a seguinte afirmação: «Na primeira metade da temporada, vimos Kokçu........

© A Bola


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