Apesar de a palavra em inglês parecer ganhar em popularidade (bully), a verdade é que o termos também existe em português e o que significa é semelhante: um rufia é uma pessoa que provoca desacatos, e que usa a intimidação para exercer o uma qualquer forma de poder. Em português ou em inglês, são pessoas que não nos interessa ter perto, e que geralmente só param quando alguém lhes faz frente. Que é algo que, em Portugal, temos pouco hábito de fazer. Tal como na escola há uns miúdos que são rufias – geralmente aqueles a quem sobra em tamanho o que falta em inteligência –, também há chefes, diretores, empresários, políticos, governantes rufias.

Entre estes últimos, temos exemplos flagrantes como Vladimir Putin ou Benjamin Netanyahu – ou Ali Khamenei, se quisermos um exemplo mais recente: personalidades que usam o medo e o poder como forma de intimidação e que esperam conseguir tudo o que querem fazendo uso da força e aumentando o terror. O problema de termos rufias a discutir entre si é que, por definição, eles ignoram absolutamente qualquer impacto das suas ações. Tudo o que lhes importa é saírem vitoriosos das lutas, seja lá elas quais forem e causem os danos que causarem. Uma escalada do conflito no Médio Oriente é mais do que expectável, tal como foi expectável a duração da Guerra na Ucrânia, por uma razão simples: os rufias não sabem parar, porque para eles, parar é perder. E a derrota não é aceitável, porque nem entendem o seu conceito. E, portanto, contam com a desistência dos seus opositores – se não conseguirem vencê-los efetivamente, tentam vencê-los pelo cansaço. Simples, assim.

Os rufias sempre existiram, e sempre existirão. No entanto, e recordando uma célebre frase que terá sido proferida por John Stuart Mill, “a única coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens bons nada façam”. A invasão da Ucrânia, por parte da Rússia, era esperada desde, pelo menos, a Guerra da Crimeia; o conflito israelo-palestiniano estava latente desde a criação do Estado de Israel. Nas duas situações, a comunidade internacional decidiu ignorar. Ignorar os rufias é sempre mais fácil do que enfrentá-los, sobretudo se eles não estão, diretamente, a atacar-nos. Mas sair-lhes da frente é, também, abrir-lhes caminho para que sejam cada vez mais agressivos, cada vez mais violentos, cada vez menos racionais.

E desengane-se, caro leitor, se acha que escrevo este artigo somente para chamar a atenção para a falha de tantos governantes que, em redor do globo, decidem todos os dias ignorar os seus pares rufias. Escrevo-lho, precisamente, para chamar a sua atenção para todos os rufias que podem estar à sua volta: entre os seus chefes, entre os seus colegas, entre os seus amigos, entre os amigos dos seus filhos. Nenhuma pessoa que não seja boa pessoa – e ser boa pessoa implica não tratar mal as outras – pode ser boa profissional, boa amiga, boa companheira de vida ou um bom exemplo de parentalidade.

Todos nós – todos! – conhecemos rufias. E todas as vezes que não os enfrentamos, e que deixamos que eles nos tratem mal ou a alguém que está ao nosso lado, estamos a encorajar um comportamento que, em situações limite, nos coloca perante os eventos a que temos assistido nos últimos meses. Um rufia destrói uma sala, uma escola, uma equipa, um projeto, uma empresa, um País. Se nos lembrarmos disto, talvez pensemos duas vezes da próxima vez que acharmos que faz sentido ignorar um deles. Porque os rufias só ganham quando não têm alguém que os enfrente.

QOSHE - Os rufias só ganham quando nós deixamos - Margarida Vaqueiro Lopes
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Os rufias só ganham quando nós deixamos

11 13
16.04.2024

Apesar de a palavra em inglês parecer ganhar em popularidade (bully), a verdade é que o termos também existe em português e o que significa é semelhante: um rufia é uma pessoa que provoca desacatos, e que usa a intimidação para exercer o uma qualquer forma de poder. Em português ou em inglês, são pessoas que não nos interessa ter perto, e que geralmente só param quando alguém lhes faz frente. Que é algo que, em Portugal, temos pouco hábito de fazer. Tal como na escola há uns miúdos que são rufias – geralmente aqueles a quem sobra em tamanho o que falta em inteligência –, também há chefes, diretores, empresários, políticos, governantes rufias.

Entre estes últimos, temos exemplos flagrantes como Vladimir Putin ou Benjamin Netanyahu – ou Ali Khamenei, se quisermos um exemplo mais recente: personalidades que usam o medo e o poder como forma de intimidação e........

© Visão


Get it on Google Play