Chacina entre o racismo e o bolsonarismo
Após compreender a dimensão e a extensão da “operação” no Complexo do Alemão e Penha no Rio de Janeiro (RJ), três conclusões preliminares parecem evidentes: a brutal chacina de 28 de outubro de 2025 tornar-se-á um marco na História contemporânea brasileira e sugere um ponto de viragem; o violento massacre policial teve um óbvio propósito político e tático eleitoral; a horripilante imagem dos corpos enfileirados na Praça São Lucas transportou-me diretamente para Gaza – realidades distintas, mas que nos apontam para a questão central: o racismo/racialização. Para o entendimento desse acontecimento é preciso ter em consideração elementos de longa duração histórica, do ciclo da ditadura empresarial-militar (1964-1985) e o contexto do Rio de Janeiro dos anos 90/2000, bem como as questões da conjuntura. Sinteticamente.
As classes dominantes brasileiras, herdeiras do colonialismo português, não importaram somente “estética e muito pouco além disso”, sobretudo, perpetuaram e atualizaram as lógicas e tecnologias político-raciais de desumanização daqueles considerados “sub-humanos”, “descartáveis”, “sem alma”. Ou seja, os pobres, periféricos, excluídos, subalternos, escravizados, os trabalhadores – as populações negras, não brancas e ameríndias. Portanto, para essa “elite”, que necessita das violentas “estética” e ideologia racistas, como forma de conservação do seu statu quo, estas populações são passíveis de genocídio, tortura, chacinas e massacres. Aos “seus serviços”, das tropas coloniais até à “burocracia armada” do Estado hoje (polícia, policiamento e encarceramento), matam impunemente os “sub-humanos” e sem precisarem de justificar nem serem responsabilizados.
A “lei informal” transmitida no treinamento policial é: identificou algo parecido com um fuzil nas mãos de um morador de comunidade, “atire para matar”, todos ali são suspeitos – mesmo que seja um guarda-chuva. Por outras palavras, é pena de morte. A presunção de inocência só existe para os condomínios dos ricos, onde muitas mães daqueles jovens mortos pela polícia vem trabalhar todos os dias, garantindo o trabalho de reprodução social de setores daquela “elite” que interiorizou e continua a “lucrar” com o racismo. Para se ter uma noção de uma política concreta, nos anos 90 um dos governadores do RJ criou as “gratificações faroeste”, ou seja, quanto mais o polícia matava, mais aumentavam os seus rendimentos mensais; recentemente tentaram recriá-las, mas ficou sem efeito.
As imagens dos mortos enfileirados, seminus, alguns corpos desmembrados – mesmo que fossem todos do Comando Vermelho (CV) – não provocaram uma grande repulsa nacional por aquele morticínio planeado pelo Estado. Isso significa que o que impera é uma generalizada dessensibilização e indiferença social; no caso do Rio de Janeiro, existe até considerável aprovação popular à “operação”. E muitos setores “progressistas” apoiaram e legitimaram o morticínio ou demonstraram uma indignação seletiva e com ressalvas. Isto é, capitularam completamente à lógica política-policial aplicada no país nos últimos 40 anos. O Presidente Lula da Silva, num gesto com preocupações eleitorais e de despolitização, a surfar no dito “populismo penal”, sanciona uma lei que endurece o combate ao “crime organizado” – a........





















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