Faz três semanas, o governo discute se vai pagar os dividendos da Petrobras que decidiu reter em 7 de março. "Governo": os ministros Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Fernando Haddad (Fazenda).

Na quarta-feira (3), teriam decidido que a petroleira deveria distribuir aqueles R$ 43,9 bilhões de dividendos extras aos acionistas, o que inclui o governo. Se por mais não fosse, Haddad precisa desse dinheiro a fim de evitar buraco ainda maior nas contas federais. O Tesouro receberia uns R$ 12,6 bilhões. Talvez a decisão de se, quanto e quando pagar ainda dependa de contas financeiras da empresa. E de Lula.

Suponha-se que tenha acontecido isso mesmo. Qual o problema? Politicalha e risco de rolo, que vão de informação privilegiada a descrédito da empresa e das diretrizes econômicas do governo, já capengas ou sabotadas.

Primeiro, é problema o governo decidir, sem mais, o que fazer de dividendos. Com maioria no conselho da Petrobras, o governo pode dar rumo a esses dinheiros, nos limites de leis e estatutos, de preferência de acordo com alguma racionalidade econômica. Mas reunião de ministro, com assessores agregados, não é reunião de conselho, não envolve a diretoria da empresa nem discussão regrada, documentada e votada de diretrizes.

Segundo, é problema que seja tão grande o risco de que informação bilionária escorra pela peneira de um ralo.

Dada a costumeira politização tumultuária da empresa, esses problemas podem até parecer fichinha. Não são. Além do mais, são sintomas de desordem da administração Lula 3.

O preço da ação da Petrobras passou a subir logo no início da manhã desta quinta (4), chegando ao pico do dia pouco depois das 11h. A primeira informação jornalística incisiva de que os dividendos extras seriam pagos apareceu no início da tarde.

Alguém pode dizer que o preço do barril do petróleo aumentou também nesta quinta, no mercado internacional (Brent, no caso, em Londres), o que poderia explicar a alta da Petrobras.

Hum. O preço do barril do petróleo começou a subir no meio da tarde (no horário de Brasília). No final do dia, a ação da Petrobras cairia em relação a quarta-feira. O barril de petróleo ficou mais caro, o que, por falar nisso, pode dar mais rolo (inflação, disputa sobre preços na Petrobras etc.).

A flutuação braba dos preços da ação da Petrobras é evidência de vazamento de informação, rolo? Não. Impossível dizer, de fora, e talvez mesmo com investigações sérias (hum), o motivo de a ação da Petrobras ter subido rápido de manhã. De qualquer modo, há avacalhação geral, politização barata de decisões sobre a empresa. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) diz que vai investigar o tumulto.

Essas variações fortes do preço da ação da petroleira ocorriam de resto durante o sururu vulgar, provinciano e incompetente que tem sido chamado de fritura de Jean Paul Prates, presidente da Petrobras.

Silveira, o ministro de Minas e Energia, sapateara sobre o corpo ainda quente de Prates, a quem tratou como Zé Mané em entrevista a esta Folha. Prates quis respaldo de Lula, que se irritou.

No salseiro, especulou-se que Aloizio Mercadante pode presidir a Petrobras. Como Mercadante, ora no comando do BNDES, é autor intelectual do programa desenvolvimentista de Lula 3, por um tempo a ação da Petrobras despencou. A informação foi vazada por petistas do Planalto —Mercadante não é nome preferido de Silveira nem de outra ala do PT. Mas Lula quer mesmo uma Petrobras "desenvolvimentista".

Esse tanto de notícias que escorre pelo ralo largo do governo poderia render muito dinheiro para espertos. Se rendeu, é outra história. Que a Petrobras possa descer assim pelo ralo, outra vez, é o problemão.

vinicius.torres@grupofolha.com.br

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Salseiro na Petrobras é desordem no governo e risco de rolo financeiro

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05.04.2024

Faz três semanas, o governo discute se vai pagar os dividendos da Petrobras que decidiu reter em 7 de março. "Governo": os ministros Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Fernando Haddad (Fazenda).

Na quarta-feira (3), teriam decidido que a petroleira deveria distribuir aqueles R$ 43,9 bilhões de dividendos extras aos acionistas, o que inclui o governo. Se por mais não fosse, Haddad precisa desse dinheiro a fim de evitar buraco ainda maior nas contas federais. O Tesouro receberia uns R$ 12,6 bilhões. Talvez a decisão de se, quanto e quando pagar ainda dependa de contas financeiras da empresa. E de Lula.

Suponha-se que tenha acontecido isso mesmo. Qual o problema? Politicalha e risco de rolo, que vão de informação privilegiada a descrédito da empresa e das diretrizes econômicas do governo, já capengas ou sabotadas.

Primeiro, é problema o governo decidir, sem mais, o que fazer de dividendos. Com maioria no conselho da Petrobras, o governo pode dar rumo a esses dinheiros, nos limites de leis e estatutos, de preferência de acordo com alguma racionalidade econômica. Mas reunião de ministro, com assessores agregados, não é reunião de conselho, não envolve a diretoria da empresa nem discussão regrada, documentada e votada de........

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