Na coluna anterior falei sobre o primeiro edifício residencial construído ao redor do parque Dom Pedro 2º, o Palacete Nacim Schoueri. Erguido na chamada "era de ouro" do parque, sua construção e posterior venda bem-sucedida impulsionou uma corrida por terrenos na região para novos empreendimentos.

Corria o ano de 1937 quando empresários sócios da indústria química Guarany, o trio Ampélio Zocchi, Ítalo Bellandi e Zulimo Bellandi decidiram investir na construção de um novo prédio no parque Dom Pedro 2º. Para tanto foram atrás de um jovem e bem sucedido arquiteto paulistano: Rino Levi. Nesse mesmo ano seria iniciada a obra do edifício que receberia o mesmo nome da empresa de seus investidores: Edifício Guarany. Levi tinha 36 anos quando foi contratado e já era um arquiteto de renome e com diversas obras vultosas inauguradas na capital paulista, como o edifícios Columbus (1932) e Nicolau Schiesser (1933).

A área escolhida à época para a localização do novo edifício era bem valorizada, ficando na esquina da então avenida Exterior com a avenida Rangel Pestana, naquele tempo uma das principais artérias de São Paulo, ligando o centro da cidade com as regiões fabris do Brás, Mooca e Belenzinho.

O terreno de 988 m² deu lugar a um edifício majestoso de linhas modernas e harmônicas, em formato de ferradura, com 9592 m² de área construída em estrutura de concreto, com um total de 6 amplos apartamentos por andar distribuídos em 15 andares e atendidos por 4 elevadores. De execução complexa para sua época, as obras do edifício Guarany levaram 5 anos, sendo concluída em 1942.

Rino Levi era muito orgulhoso de sua obra e deixou-se fotografar descansando sob a sombra de uma árvore do parque Dom Pedro 2º, tendo como cenário de fundo o Guarany.

Incorporado ao cenário urbano paulistano, o edifício Guarany impressionava quem vinha da zona leste de São Paulo, pela avenida Rangel Pestana. Afinal do outro lado do parque Dom Pedro 2º, do Brás em diante, a cidade era praticamente dotada apenas de construções horizontais, com poucos edifícios com no máximo 4 ou 5 andares, sendo apenas o edifício R.Monteiro (1942), na rua Monsenhor Andrade, capaz de rivalizar em altura e tamanho, mas sem o mesmo charme do prédio projetado por Rino Levi

Morar no edifício Guarany nas suas primeiras três décadas era algo muito satisfatório devido a grande disponibilidade de lazer, compras e transporte público ao seu redor. Existiam – no que corretores de imóveis hoje gostam de chamar como "walk distance" – diversas linhas de ônibus, bondes e trólebus, o Parque Shangai, primeiro parque de diversões da cidade, o Cine Itapura, o Mercado Municipal da Cantareira e a elegante e lendária confeitaria – vejam só o nome – Guarany, essa na própria avenida Rangel Pestana.

O que não se esperava era que na segunda metade da década de 1960 o então prefeito Faria Lima faria uma revolução urbana no local que transformaria de vez o bucólico parque Dom Pedro 2º em uma uma região de trânsito insano, cinco viadutos e um enorme terminal de ônibus. Muito tempo depois o que parecia uma decisão arrojada e acertada revelou-se um desastre urbanístico com o parque e praticamente tudo a seu redor se deteriorando ao longo dos anos.

O próprio Edifício Guarany chegou a ficar em mau estado de conservação no seu exterior, sendo recuperado recentemente. Se o parque Dom Pedro 2º há muito deixou de ser um cartão postal de São Paulo, ao menos o prédio construído por Rino Levi serve para dar um alento a essa região da cidade.

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Edifício Guarany: o ícone modernista do parque Dom Pedro 2º

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18.11.2023

Na coluna anterior falei sobre o primeiro edifício residencial construído ao redor do parque Dom Pedro 2º, o Palacete Nacim Schoueri. Erguido na chamada "era de ouro" do parque, sua construção e posterior venda bem-sucedida impulsionou uma corrida por terrenos na região para novos empreendimentos.

Corria o ano de 1937 quando empresários sócios da indústria química Guarany, o trio Ampélio Zocchi, Ítalo Bellandi e Zulimo Bellandi decidiram investir na construção de um novo prédio no parque Dom Pedro 2º. Para tanto foram atrás de um jovem e bem sucedido arquiteto paulistano: Rino Levi. Nesse mesmo ano seria iniciada a obra do edifício que receberia o mesmo nome da empresa de seus investidores: Edifício Guarany. Levi tinha 36 anos quando foi contratado e já era um arquiteto de renome e com diversas obras vultosas inauguradas na capital paulista, como o edifícios Columbus (1932) e Nicolau Schiesser (1933).

A área escolhida à época para a localização do novo edifício era bem valorizada, ficando na esquina da então avenida Exterior com a avenida Rangel Pestana, naquele tempo uma das principais artérias de São Paulo, ligando o centro da cidade com as regiões fabris do Brás, Mooca e........

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