Quem caminha pelas ruas do famoso triângulo histórico do centro de São Paulo e observa todos aqueles edifícios, onde quase que a totalidade deles são antigos, talvez nunca tenha imaginado que um dos mais icônicos deles tinha originalmente apenas 2 andares, antes de se transformar em um arranha-céu.

A história curiosa deste prédio começa antes mesmo de sua construção, com o crescimento de uma das grandes empresas brasileiras das primeiras décadas do século 20, o Moinho Santista. Originalmente estabelecida na cidade de Santos pela facilidade de seus negócios e exportações, a empresa muda sua sede para a capital paulista em 1908 em um prédio na rua da Quitanda.

Como o edifício em questão era muito aquém das necessidades da então pujante Santista, a empresa decide construir um novo edifício não muito distante dali para abrigar sua sede própria. O local escolhido: o Largo do Café, à época uma das áreas mais valorizadas do centro paulistano.

Nos anos 1910 finalmente é inaugurado o chamado "Escritório Central do Moinho Santista" uma edificação luxuosa de dois andares em estilo neoclássico que passava a abrigar a administração da empresa nos andares superiores e o setor financeiro no térreo, cuja estrutura lembrava muito uma agência bancária .

Com o passar dos anos e já associado à multinacional Bunge, o Moinho Santista foi ampliando suas atividades comerciais e a sede do Largo do Café foi ficando cada vez menos adequada para os negócios. Ao invés de demolir sua sede e construir outra a empresa teve uma decisão inusitada: ampliar o edifício.

Na década de 1940 o Moinho Santista transformou sua sede de dois andares em um arranha-céu com 14 andares e modernas instalações, porém sem alterar a fachada neoclássica original preexistente. Já os novos andares seguiram um estilo arquitetônico diferente. O prédio inclusive passa a ser o mais alto do Largo do Café, o que sem mantém inalterado até os dias atuais.

Com o passar dos anos o Grupo Bunge, proprietário do Moinho Santista e de outras empresas, transferiu sua sede para outra região da capital e o edifício é colocado à venda, sendo adquirido pelo Banco do Comércio e Indústria de São Paulo S/A (COMIND), que nos anos 1980 chegou a ser um dos cinco maiores do Brasil.

É nesse momento que o prédio recebe um "batismo" e passa a ter nome oficial sendo chamado de Edifício INDUSEG, sendo mantido até os dias atuais apesar de não estar estampado em nenhuma de suas entradas. O nome é a sigla de Companhia Nacional de Seguros do Comércio e da Indústria, uma das empresas do COMIND.

O prédio mudaria de dono ao menos mais uma vez na década de 1980, devido ao COMIND ter suas operações liquidadas pelo Banco Central em 1985. Apesar da mudança de proprietário o prédio não sofreu alterações e permanece preservado e em bom estado de conservação. Foi tombado pelo CONPRESP como patrimônio histórico paulistano em 1992.

Em algum momento após a construção do edifício, não se sabe se na fase inicial ou em sua ampliação, a Santista encomendou painéis artísticos ao escultor Victor Brecheret. Este conjunto ficava no hall principal do prédio, onde atualmente funciona uma farmácia. Contudo, não está mais lá.

Conversei com Sandra Brecheret, filha do artista e presidente da Fundação Escultor Victor Brecheret, sobre o paradeiro da obra. Ela confirmou a existência dos painéis e conta que um deles foi destruído após uma reforma, mas que os demais sobreviveram e chegaram a ser expostos em cavaletes pelo Banco Itaú no início dos anos 2000. Consultei o Instituto Itaú Cultural a respeito da obra, que informou que a obra não faz parte do acervo do Grupo Itaú, não tendo, portanto, informações sobre seu paradeiro.

O Centro de Memória Bunge, instituição responsável pela preservação e gestão da memória empresarial do Grupo Bunge, que inclui o acervo do Moinho Santista, possui uma réplica em miniatura da obra. Está é a única imagem que temos desse painel. A pergunta que não quer calar ficará, portanto, no ar: onde foi parar o painel de Victor Brecheret?

Mais

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Assinantes podem liberar 7 acessos por dia para conteúdos da Folha

Assinantes podem liberar 7 acessos por dia para conteúdos da Folha

Assinantes podem liberar 7 acessos por dia para conteúdos da Folha

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Você já conhece as vantagens de ser assinante da Folha? Além de ter acesso a reportagens e colunas, você conta com newsletters exclusivas (conheça aqui). Também pode baixar nosso aplicativo gratuito na Apple Store ou na Google Play para receber alertas das principais notícias do dia. A sua assinatura nos ajuda a fazer um jornalismo independente e de qualidade. Obrigado!

Mais de 180 reportagens e análises publicadas a cada dia. Um time com mais de 200 colunistas e blogueiros. Um jornalismo profissional que fiscaliza o poder público, veicula notícias proveitosas e inspiradoras, faz contraponto à intolerância das redes sociais e traça uma linha clara entre verdade e mentira. Quanto custa ajudar a produzir esse conteúdo?

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.

QOSHE - A história do edifício do Largo do Café que aumentou de tamanho - São Paulo Antiga
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

A história do edifício do Largo do Café que aumentou de tamanho

8 4
04.04.2024

Quem caminha pelas ruas do famoso triângulo histórico do centro de São Paulo e observa todos aqueles edifícios, onde quase que a totalidade deles são antigos, talvez nunca tenha imaginado que um dos mais icônicos deles tinha originalmente apenas 2 andares, antes de se transformar em um arranha-céu.

A história curiosa deste prédio começa antes mesmo de sua construção, com o crescimento de uma das grandes empresas brasileiras das primeiras décadas do século 20, o Moinho Santista. Originalmente estabelecida na cidade de Santos pela facilidade de seus negócios e exportações, a empresa muda sua sede para a capital paulista em 1908 em um prédio na rua da Quitanda.

Como o edifício em questão era muito aquém das necessidades da então pujante Santista, a empresa decide construir um novo edifício não muito distante dali para abrigar sua sede própria. O local escolhido: o Largo do Café, à época uma das áreas mais valorizadas do centro paulistano.

Nos anos 1910 finalmente é inaugurado o chamado "Escritório Central do Moinho Santista" uma edificação luxuosa de dois andares em estilo neoclássico que passava a abrigar a administração da empresa nos andares superiores e o setor financeiro no térreo, cuja estrutura lembrava muito uma agência bancária .

Com o passar dos anos e já associado à multinacional Bunge, o Moinho Santista........

© UOL


Get it on Google Play