Quem caminha pela rua Galvão Bueno, na Liberdade, região central de São Paulo, especificamente no trecho conhecido como viaduto Cidade de Osaka, onde especialmente aos finais de semana a agitação é frenética, com pessoas indo às compras ou passeando pelo bairro ou mesmo artistas de rua tentando descolar uns trocados vestido de Pokemon ou Ultraman, possivelmente sequer desconfia que até sessenta anos atrás o local era completamente diferente e abrigava de residências a até um cinema, o Niterói.

O cinema surgiu do desejo de Yoshikazu Tanaka em ser exibidor de filmes japoneses. Ele e sua família chegaram ao Brasil vindo do Japão em 1923 para trabalharem na roça. A família Tanaka rapidamente prosperou como cafeicultores e posteriormente como comerciantes de café e feijão.

Junto de seu irmão mais novo, Susumu, Yoshikazu veio para a capital paulista para transformar seu sonho em realidade. Ele adquiriu um terreno na rua Galvão Bueno no início da década de 1950 e contratou o arquiteto Armenio Crestana para construir as futuras instalações do Cine Niterói, que seria inaugurado em agosto de 1953.

A grandiosa edificação não era apenas um cinema, mas um prédio que contava com cinema, restaurante, hotel e um grande salão de festas no último andar. Na época de sua inauguração o Niterói foi motivo de orgulho não só para parentes e amigos dos Tanaka, mas de toda a comunidade japonesa. A sala de cinema contava com um total de 1500 lugares em poltronas estofadas, em uma época que muitos cinemas ainda utilizavam cadeiras apenas de madeira.

O Niterói foi a primeira sala de exibição de filmes japoneses em São Paulo e exibia filmes da produtora Toei com exclusividade. Logo transformou-se em um grande sucesso, com a casa sempre lotada o que impulsionou a abertura de outras salas no bairro da Liberdade, como o Tokyo (1954), Cine Jóia (1958), Shochiku e Nippon (1959), sendo que cada um representava um grande estúdio do Japão.

Quis o destino que a duração do Cine Niterói na rua Galvão Bueno não fosse muito longeva. Já na década seguinte as transformações viárias de São Paulo atingiram em cheio a região da Liberdade com as obras da Radial Leste Oeste e as ruas Galvão Bueno, Glória e a avenida da Liberdade com vários imóveis desapropriados e demolidos, dando lugar a três novas pontes. Além do Cine Niterói outro importante espaço cultural demolido na região foi o Teatro São Paulo. A fotografia abaixo mostra atualmente o local onde outrora funcionou o cinema.

A demolição, no entanto, não foi o fim do Cine Niterói. Apesar de receberem um indenização aquém do valor pretendido, os proprietários conseguiram adquirir um imóvel na avenida Liberdade onde anteriormente funcionou o Cine Liberdade. O espaço, contudo, era bem menor que o da rua Galvão Bueno, comportando menos de 1000 espectadores por sessão.

Como no resto da cidade de São Paulo a decadência dos cinemas de rua também chegou na Liberdade, atrapalhando a sobrevivência do Niterói. Além disso, uma lei que passou a obrigar todos os cinemas a exibirem também filmes nacionais ajudou a afugentar uma parte do público, e em 1984 eles interromperam a importação de títulos japoneses, passando a exibir filmes que já contava em acervo e filmes do circuito tradicional. Sem público e também sofrendo a concorrência da importação de filmes em VHS o Niterói encerrou suas atividades em 1988.

Após o fechamento do cinema o espaço da avenida Liberdade teve diversos funcionamentos como loja, bingo e atualmente funciona um supermercado.

Veja mais fotos do Cine Niterói:

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A história do Cine Niterói

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13.03.2024

Quem caminha pela rua Galvão Bueno, na Liberdade, região central de São Paulo, especificamente no trecho conhecido como viaduto Cidade de Osaka, onde especialmente aos finais de semana a agitação é frenética, com pessoas indo às compras ou passeando pelo bairro ou mesmo artistas de rua tentando descolar uns trocados vestido de Pokemon ou Ultraman, possivelmente sequer desconfia que até sessenta anos atrás o local era completamente diferente e abrigava de residências a até um cinema, o Niterói.

O cinema surgiu do desejo de Yoshikazu Tanaka em ser exibidor de filmes japoneses. Ele e sua família chegaram ao Brasil vindo do Japão em 1923 para trabalharem na roça. A família Tanaka rapidamente prosperou como cafeicultores e posteriormente como comerciantes de café e feijão.

Junto de seu irmão mais novo, Susumu, Yoshikazu veio para a capital paulista para transformar seu sonho em realidade. Ele adquiriu um terreno na rua Galvão Bueno no início da década de 1950 e contratou o arquiteto Armenio Crestana para construir as futuras instalações do Cine Niterói, que seria inaugurado em agosto de 1953.

A grandiosa edificação não era apenas um cinema, mas um prédio que contava com cinema, restaurante, hotel e um........

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