Foi com grande alegria que descobri, pela coluna de Flávia Boggio, que o português do Brasil tem sofrido com a entrada no léxico de palavras irritantes. A razão da alegria é esta: o português de Portugal também, e a moda linguística é exatamente a mesma.

Muitas vezes, há quem diga que o português brasileiro e o português europeu divergiram tanto que já são línguas diferentes. Por isso, é refrescante verificar que, afinal, as duas normas caminham juntas, mesmo que a sintonia se dê no âmbito da bobagem.

É como se dois irmãos gêmeos que resolveram viver em hemisférios diferentes fossem ambos enganados, ao mesmo tempo, pelo email do príncipe da Nigéria. Estão separados, mas continuam juntos.

Boa parte das novas palavras vem do mundo dos negócios, e, por isso, a sua entrada no linguajar cotidiano é quase sempre uma manifestação da influência inglesa. Já se sabe: nas empresas uma pessoa começa a receber "inputs", "adquire know-how" e, quando vai dar feedback, percebe que desenvolveu "skills". É fatal.

Mas é de lá que vem também outro tipo de palavra. Por exemplo, "disruptivo". Convém ter ideias disruptivas, o que só costuma acontecer se, como se sabe, a gente pensar "fora da caixa". Que caixa é essa? Ninguém sabe ao certo, embora todo o mundo esteja, infelizmente, pensando dentro dela.

Mais

Outra palavra com origem no linguajar empresarial é "assertivo". Em Portugal, a palavra é usada sobretudo por pessoas que julgam que ser assertivo é ter a capacidade de acertar, como na frase "quando estávamos na brincadeira com as flechas eu atingi o alvo bem no meio, porque sou uma pessoa muito assertiva".

Uma das modas mais populares consiste em criar palavras usando o método de acrescentar sílabas a palavras já existentes. É por isso que certas pessoas se dedicam a "vivenciar" em vez de viver, ou a "recepcionar" em vez de receber.

Aqueles que ainda vivem e recebem são pessoas um ponto zero, fatalmente desatualizadas. É o meu caso, que no entanto tenho experienciado a seguinte vivência: quando a maior parte das pessoas tenta pensar fora da caixa, manter-se na caixa é que é disruptivo. Creio que é uma questão de tempo até que todo o mundo o "percepcione".

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Assinantes podem liberar 7 acessos por dia para conteúdos da Folha

Assinantes podem liberar 7 acessos por dia para conteúdos da Folha

Assinantes podem liberar 7 acessos por dia para conteúdos da Folha

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Leia tudo sobre o tema e siga:

Você já conhece as vantagens de ser assinante da Folha? Além de ter acesso a reportagens e colunas, você conta com newsletters exclusivas (conheça aqui). Também pode baixar nosso aplicativo gratuito na Apple Store ou na Google Play para receber alertas das principais notícias do dia. A sua assinatura nos ajuda a fazer um jornalismo independente e de qualidade. Obrigado!

Mais de 180 reportagens e análises publicadas a cada dia. Um time com mais de 200 colunistas e blogueiros. Um jornalismo profissional que fiscaliza o poder público, veicula notícias proveitosas e inspiradoras, faz contraponto à intolerância das redes sociais e traça uma linha clara entre verdade e mentira. Quanto custa ajudar a produzir esse conteúdo?

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.

QOSHE - É refrescante perceber que o português europeu e o brasileiro caminham juntos - Ricardo Araújo Pereira
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

É refrescante perceber que o português europeu e o brasileiro caminham juntos

7 0
06.04.2024

Foi com grande alegria que descobri, pela coluna de Flávia Boggio, que o português do Brasil tem sofrido com a entrada no léxico de palavras irritantes. A razão da alegria é esta: o português de Portugal também, e a moda linguística é exatamente a mesma.

Muitas vezes, há quem diga que o português brasileiro e o português europeu divergiram tanto que já são línguas diferentes. Por isso, é refrescante verificar que, afinal, as duas normas caminham juntas, mesmo que a sintonia se dê no âmbito da bobagem.

É como se dois irmãos gêmeos que resolveram viver em hemisférios diferentes fossem ambos enganados, ao mesmo tempo, pelo email do príncipe da Nigéria. Estão separados, mas continuam juntos.

Boa parte das novas palavras vem do mundo dos negócios, e, por isso, a sua entrada no linguajar cotidiano é quase sempre uma........

© UOL


Get it on Google Play