Depois do forte erro de previsão dos economistas sobre a trajetória da taxa básica de juros nos últimos dois anos, é natural ficarmos desconfiados. Entretanto, neste momento é diferente. Não é uma questão de previsão. Já está ocorrendo e a própria autoridade monetária está sinalizando. Detalho o que ocorreu, o que está ocorrendo e como se posicionar.

Vamos relembrar o que ocorreu nestes últimos anos.

Ao longo do primeiro semestre de 2021, a inflação acumulada de 12 meses saltou de 4,5% ao ano para 8,35% ao ano, de dezembro de 2020 para junho de 2021, respectivamente.

Segundo o relatório Focus do Banco Central (BC) do fim de junho de 2021, a expectativa dos economistas era de que aquele surto de inflação era temporário e retrocederia rapidamente. Portanto, o BC não precisaria subir muito a taxa Selic.

Naquele momento, os economistas projetavam que o IPCA médio em 2022 e a Selic no fim do ano passado seriam de 3,78% e 6,5% ao ano, respectivamente. Faltando seis meses para o início de 2022, esta era a previsão para o ano passado.

A Selic média em 2022 foi de 12,4% e encerrou o ano em 13,75% ao ano. A taxa básica de juros subiu mais que o dobro do previsto.

O CDI acumulado no ano de 2023 deve encerrar em 13% ao ano. Portanto, superior ao de 2022.

O fato de termos vivenciado esta alta dos juros, traz uma grande dificuldade de perceber que a trajetória já mudou.

Neste momento, a Selic e o CDI são de 12,15% ao ano. Perceba que esta taxa já é inferior à média do que ocorreu nos últimos dois anos. A trajetória dos juros já mudou. Lembrando de minhas aulas de Cálculo da faculdade, a derivada da curva de evolução do CDI já é negativa.

Adicionalmente, a autoridade monetária que decide sobre o futuro desta taxa, o Comitê de Política Monetária do BC já escreveu em seu último comunicado que, nas próximas reuniões, deve continuar reduzindo os juros em 0,5% por reunião.

Isto significa que no fim de 2023, o CDI será de 11,65% ao ano, em janeiro de 2024 ele será de 11,15% ao ano e, possivelmente, em junho do próximo ano será de 9,65% ao ano.

Podemos citar três razões que sustentam a continuação desta queda:
1 – A inflação já arrefeceu. Os últimos dados têm surpreendido o mercado para baixo e a anualização dos dados mensais passados já mostra que ela se encontra dentro da meta do BC;
2 – A forte alta de juros que ocorreu por todo o mundo já começa a trazer as consequências de desaquecimento do crescimento global, inclusive da economia brasileira. Menor crescimento, significa menor demanda e, consequentemente, menor inflação futura;
3 – A taxa de juros real implícita na taxa Selic se encontra acima do máximo observado nos últimos 15 anos. Isso dá muito espaço para que o BC reduza juros e ainda mantenha uma taxa restritiva para segurar inflação.

Se a inflação ficar controlada como está no patamar de 4% ao ano, a taxa Selic pode cair para 9% em 2024. Com esta taxa de juros, a taxa real implícita na Selic será de IPCA 4,8% ao ano. Esta taxa é superior à taxa real média dos últimos 15 anos que foi IPCA 3,7% ao ano.

Assim, aproveite que ainda há excelentes taxas de juros referenciadas ao IPCA e prefixadas neste momento para travar por longo prazo taxas mais altas.

Neste momento, taxas de juros referenciadas ao IPCA podem perder do CDI. Isso pode provocar um sentimento de que você está perdendo a oportunidade de ganhar do CDI atual e traz o medo de mudar.

Entretanto, em vez de ter medo de fazer algo diferente agora para não perder do CDI de agora, você deveria temer não fazer nada e ter apenas o CDI a partir do próximo ano.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Três razões por que a Selic deve cair forte no próximo ano e o que fazer ainda neste ano

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19.11.2023

Depois do forte erro de previsão dos economistas sobre a trajetória da taxa básica de juros nos últimos dois anos, é natural ficarmos desconfiados. Entretanto, neste momento é diferente. Não é uma questão de previsão. Já está ocorrendo e a própria autoridade monetária está sinalizando. Detalho o que ocorreu, o que está ocorrendo e como se posicionar.

Vamos relembrar o que ocorreu nestes últimos anos.

Ao longo do primeiro semestre de 2021, a inflação acumulada de 12 meses saltou de 4,5% ao ano para 8,35% ao ano, de dezembro de 2020 para junho de 2021, respectivamente.

Segundo o relatório Focus do Banco Central (BC) do fim de junho de 2021, a expectativa dos economistas era de que aquele surto de inflação era temporário e retrocederia rapidamente. Portanto, o BC não precisaria subir muito a taxa Selic.

Naquele momento, os economistas projetavam que o IPCA médio em 2022 e a Selic no fim do ano passado seriam de 3,78% e 6,5% ao ano, respectivamente. Faltando seis meses para o início de 2022, esta era a previsão para o ano passado.

A Selic média em 2022 foi de 12,4% e encerrou o ano em 13,75% ao ano. A taxa básica de juros subiu mais que o dobro do previsto.

O CDI acumulado no ano de 2023 deve encerrar em 13% ao ano. Portanto, superior ao de 2022.

O fato de termos........

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