A citricultura vai terminar o ano com momentos bem diferentes dos habituais. A caixa de laranja atingiu preços recordes no mercado paulista, a bolsa de negociações em Nova York bateu os US$ 6.000 por tonelada de suco, um valor bastante expressivo, e os consumidores, na sequência de tudo isso, pagam mais pela bebida.

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Fernanda Geraldini, pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), diz que um conjunto de fatores que ocorreram a médio prazo levou o setor a esse ponto.

Os estoques são os principias motivos dessa aceleração. O setor teve duas safras abaixo da média, as de 2020/21 e 2021/22. Já as duas seguintes, embora dentro da média, não conseguiram compensar a perda de matéria-prima das anteriores.

Os estoques desceram para patamar muito baixo e só vão ser repostos quando houver boas safras. O Brasil é o principal fornecedor de suco de laranja, e o desempenho do país afeta todo o mercado mundial.

Dados da CitrusBr indicam que o estoque das indústrias brasileiras recuou para 84,7 mil toneladas em 30 de junho, 41% a menos do que na mesma data de 2022. Há uma década, o Brasil tinha 766 mil toneladas de suco em estoques.

O cinturão citrícola de São Paulo e de Minas Gerais vem diminuindo muito em área nos últimos anos. A queda na oferta de matéria-prima só não foi maior porque a produtividade aumentou.

Além disso, os EUA, grandes consumidores, elevaram as importações do Brasil no ano passado, devido à forte queda da produção da Flórida. Essas compras ocorrem em um momento em que o Brasil já não tem grandes estoques, segundo a pesquisadora.

Somado a isso, o greening, uma doença que atinge os laranjais de vários países, afeta a produtividade e a oferta de laranja. A situação é preocupante a longo prazo, segundo Fernanda.

O greening não só afeta pomares e produtividade mas também põe em risco os investimentos no setor. A doença causa preocupação nos investidores, que não sabem o que vai ocorrer com os pomares nos próximos anos.

Preços recordes da laranja não significam boas margens para todos os produtores, afirma a pesquisadora. Desde que houve uma redução dos pomares no cinturão citrícola de São Paulo e de Minas Gerais, a situação do produtor pode ser considerada como mediana, afirma ela.

A rentabilidade vai depender da produtividade. Quem obteve bom patamar de produtividade dilui mais os custos e vai obter mais receitas.

É preciso avaliar o histórico de cada produtor para analisar a rentabilidade de cada um. Em algumas regiões, o greening chega a afetar mais de 70% dos pomares. Nesses casos, produtividade e custos são desafiadores para os produtores, afirma Fernanda.

Neste ano, no entanto, deverá haver rentabilidade para todos os produtores, que vão ficar no azul. Quem teve produção mais baixa vai ter um caixa mais apertado. Outros, em situação mais confortável, vão acumular gorduras, afirma a pesquisadora.

A rentabilidade vai depender também da estratégia de comercialização adotada. A caixa de laranja de 40,8 kg para os produtores que têm o produto disponível está próxima de R$ 50.

Os agricultores, no entanto, colhem e repassam o produto para a indústria, mas podem ter feito contratos de venda antes do início da safra.

De junho a novembro de 2022, um período de grande processamento, o preço médio da caixa de laranja foi de R$ 30,34, segundo dados do Cepea. No mesmo período deste ano, o valor médio é de R$ 45,18, uma evolução de 49%.

O Cepea não acompanha preços do suco nos supermercados, mas informações de participantes do mercado varejista indicam que esse reajuste de preços da laranja chega ao consumidor.

Os produtores de suco de laranja para o mercado interno são empresas de menor porte, que podem ter um custo mais elevado na aquisição da matéria-prima do que as grandes, que visam o mercado externo.

As indústrias que abastecem o mercado interno têm um desafio. Se fizerem repasse brusco no preço final para o consumidor, podem perder participação nesse setor, que está em ascensão.

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Citricultura chega ao fim do ano com preço recorde

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28.11.2023

A citricultura vai terminar o ano com momentos bem diferentes dos habituais. A caixa de laranja atingiu preços recordes no mercado paulista, a bolsa de negociações em Nova York bateu os US$ 6.000 por tonelada de suco, um valor bastante expressivo, e os consumidores, na sequência de tudo isso, pagam mais pela bebida.

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Fernanda Geraldini, pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), diz que um conjunto de fatores que ocorreram a médio prazo levou o setor a esse ponto.

Os estoques são os principias motivos dessa aceleração. O setor teve duas safras abaixo da média, as de 2020/21 e 2021/22. Já as duas seguintes, embora dentro da média, não conseguiram compensar a perda de matéria-prima das anteriores.

Os estoques desceram para patamar muito baixo e só vão ser repostos quando houver boas safras. O Brasil é o principal fornecedor de suco de laranja, e o desempenho do país afeta todo o mercado mundial.

Dados da CitrusBr indicam que o estoque das indústrias brasileiras recuou para 84,7 mil toneladas em 30 de junho, 41% a menos do que na mesma data de 2022. Há uma década, o Brasil tinha 766 mil toneladas de suco em estoques.

O cinturão citrícola de São Paulo e de Minas Gerais vem diminuindo muito em área nos........

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