Sempre existiu no cristianismo aqueles que afirmavam que "os judeus mataram Cristo". Pois bem, essa forma de antissemitismo está de volta, carregado no colo pela esquerda, e não passará despercebida.

O pessimismo é um desafio num mundo a deriva como o nosso. Há um motivo para ele ser um desafio nesse Natal. O Natal antissemita está de volta. Aparentemente, esse fenômeno tinha sido deixado para trás pela teologia cristã. Graças a Deus.

Mas os recentes eventos do conflito israelo-palestino trazem à luz o fato que persiste no fundo do poço de alguns luminares cristãos, um resto do velho antissemitismo de "os judeus mataram Cristo".

Disclaimer: refiro-me a casos específicos, óbvio, mas significativos, quando vem regado à credibilidade do combate histórico pela liberdade e pelo bem político e social.

O que era esse antissemitismo cristão? Explico para os iniciantes. Durante muito tempo, muita gente dizia que "os judeus mataram Cristo".

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Essa afirmação corria boca a boca por séculos. Graças aos esforços de muitos teólogos e lideres do cristianismo e do judaísmo, essa afirmação mentirosa perdeu força no Ocidente e, hoje, a imensa maioria dos cristãos apoia o direito de Israel se defender do terrorismo. Mas persiste na alma de alguns essa ideia antijudaica, ainda que velada. Vejamos.

Se alguém afirma que nesse Natal, o Cristo é uma criança palestina morta por Israel –entendo a metáfora teológica de longo alcance–, essa pessoa comete um pecado típico dos antissemitas cristãos do passado quando, inclusive, ignoravam a "nacionalidade" do Jesus de Nazaré.

Por isso, essa metáfora não é inocente e deixa transparecer que Jesus seria palestino e não judeu. Arafat tentou dar esse golpe de marketing em 2000 quando defendia que Jesus fora o primeiro palestino perseguido por um estado judeu.

Lembremos: Jesus de Nazaré era tão judeu quanto Barrabá s, Bibi Netanyahu, Golda Meir, Itzak Rabin, Einstein, Marx, Freud. Ser judeu não é garantia de caráter, óbvio, como tampouco o é ser de esquerda –de direita, todo mundo está cansado de saber que não é.

Tampouco ser de qualquer "nacionalidade", incluindo palestinos ou brasileiros. Se Jesus vivesse na Europa da primeira metade do século 20, teria sido fritado na cara de todo mundo.

Nesse sentido, seria mais historicamente fundamentado dizer, no plano das metáforas, que as crianças mortas intencionalmente e as mulheres estupradas e arrastadas pelos cabelos pelo Hamas, são o Cristo nesse Natal –já que Jesus de Nazaré era tão judeu quanto elas, não?

Mas o atávico antissemitismo em setores da esquerda religiosa é mais forte. Ou, se fôssemos ser mais "inclusivos", deveríamos, talvez, dizer, metaforicamente, que nesse Natal, todas as crianças que são mortas no mundo são o Cristo –inclusive, as que morrem no nosso quintal aqui no Brasil, mas não dão ibope. Quando se diz que, apenas as crianças de Gaza são o Cristo, a hipótese que a precede –atenção!– é que os judeus estão matando o Cristo de novo.

O que os antissemitas ainda não perceberam é que o odor que eles exalam, hoje, é reconhecido imediatamente. Um caso gritante é o das universidades progressistas de ricos nos EUA.

A simples possibilidade de ver um judeu armado, que também pode matar, e que os enfrentam, causa horror, não? Judeus agora podem matar, tanto quanto aqueles que os matam. Durmam com um barulho desse.

Outro argumento do antissemitismo atávico de alguns cristãos é o que dizia que Jesus de Nazaré havia sido recusado, além de morto, pelo seu próprio povo.

A metáfora de que nesse Natal, apenas as crianças mortas em Gaza seriam o Cristo –e, portanto, Ele estaria sendo, de novo, recusado e morto pelo seu próprio povo–, faria qualquer antissemita do passado se sentir em casa, não? Esse é o tipo de gente que ama a humanidade, mas detesta judeus.

Espero que aqueles entre nós que afirmam que o Hamas é resistência anticolonial adotem um terrorista para si. Levem-no para casa nesse Natal. O antissemitismo de esquerda disfarçado de amor a humanidade grassa no mundo das ciências humanas.

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Cristãos de esquerda tentam promover, durante a guerra, Natal antissemita

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17.12.2023

Sempre existiu no cristianismo aqueles que afirmavam que "os judeus mataram Cristo". Pois bem, essa forma de antissemitismo está de volta, carregado no colo pela esquerda, e não passará despercebida.

O pessimismo é um desafio num mundo a deriva como o nosso. Há um motivo para ele ser um desafio nesse Natal. O Natal antissemita está de volta. Aparentemente, esse fenômeno tinha sido deixado para trás pela teologia cristã. Graças a Deus.

Mas os recentes eventos do conflito israelo-palestino trazem à luz o fato que persiste no fundo do poço de alguns luminares cristãos, um resto do velho antissemitismo de "os judeus mataram Cristo".

Disclaimer: refiro-me a casos específicos, óbvio, mas significativos, quando vem regado à credibilidade do combate histórico pela liberdade e pelo bem político e social.

O que era esse antissemitismo cristão? Explico para os iniciantes. Durante muito tempo, muita gente dizia que "os judeus mataram Cristo".

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Essa afirmação corria boca a boca por séculos. Graças aos esforços de muitos teólogos e lideres do cristianismo e do judaísmo, essa afirmação mentirosa perdeu força no Ocidente e, hoje, a imensa maioria dos cristãos apoia o direito de Israel se defender do terrorismo. Mas persiste na alma de alguns essa ideia antijudaica, ainda que velada. Vejamos.

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