O continente africano conquistou o programador de sistemas Rafael Sousa, 32 anos, que viaja revelando o que o mundo não mostra: uma África cultural e rica. A viagem inicial que deveria ter durado seis meses, teve o dobro do tempo, passou por 20 países e deixou uma lição: "Não é lugar para ter pressa, é para se conectar com as pessoas. Quanto mais você puder vivenciar, melhor", constata ele.

Logo no começo da viagem, Rafael criou um canal no Youtube que começou a rentabilizar nos primeiros seis meses. Por lá, ele mostra a cultura dos povos nativos, sempre com visão da cultura da comunidade. "Isso viralizou e continua atraindo a atenção das pessoas", descreve ele.

Entre os fatos que marcaram suas viagens, Rafael esteve uma situação na Namíbia em que as mulheres da etnia himba vivem em regiões muito secas. "Ali, a água é escassa, então as pessoas tomam banho com fumaça com aroma que sai de uma pedra que cabe na mão e isso deixa elas muito cheirosas, sem precisar de água", relata.

Já a Etiópia, segundo ele, mantem culturas locais e usa um calendário diferente, que marca o ano de 2016 e tem dias que começam junto com o nascer do sol. "É muito curioso, pois a meia-noite é o horário do nascer do sol e os anos têm cerca de sete dias a menos do calendário ocidental, por isso, ainda estão em 2016".

Início da jornada

Nascido em São Paulo, Rafael morou quase a vida toda em Itaquaquecetuba (SP). Trabalhava na área de Tecnologia da Informação, tinha um emprego estável, quando decidiu morar na Irlanda para fazer intercâmbio em 2015. Além do inglês, a temporada rendeu pequenas viagens para países do continente europeu e um novo estilo de vida.

Quando voltou do período no exterior, Rafael não conseguia se adaptar a São Paulo. "Desacostumei com cidade agitada", diz. Ele começou a se planejar morar fora. Conseguiu um emprego em Barcelona, na Espanha, em 2019. "Busquei estabilidade, mas depois quis fugir dela e comecei a planejar uma viagem mais longa", lembra.

A ideia inicial era passar três meses na África, três meses na Ásia, três meses no Oriente Médio e três meses na América Central. Antes de iniciar a viagem mais longa, foi para o Quênia em 2021 e entendeu que o continente africano teria muitas coisas a oferecer.

Em fevereiro de 2022 começou a viagem pela África do Sul, com destino ao Egito, passando por toda a costa leste do continente. "Virei o ‘cara da África’ e comecei a achar que fazia sentido. Sou negro e me identifico muito", diz ele, que chegou a passar três meses no continente asiático, mas teve uma experiência diferente. "Eu gostei, mas não me identifiquei".

Nova rota

Depois de uma pausa no Brasil, Rafael iniciou uma nova jornada em que pretende conhecer 18 países em oito meses, passando por toda a costa oeste do continente. O valor estimado da viagem é de 13 mil dólares, ou cerca de R$ 64 mil, e é realizada com recursos próprios. Nesse momento, o youtuber está no Benin e depois deve seguir para o Togo.

Para ele, a maior dificuldade no continente africano é o transporte, uma vez que os trajetos são longos e algumas vezes desafiadores. Além disso, de uma cidade para outra, não é possível, na maioria das vezes, consultar mapa, GPS e é preciso perguntar para as pessoas locais para entender como chegar em um novo destino.

Outro desafio, segundo o viajante, é a adaptação com a alimentação. "No começo você pode passar por um baque. Cheguei a ficar 30 dias com diarreia e depois nunca mais tive nada", conta. Já o melhor do continente são as pessoas, que segundo Rafael Sousa, são as mais amigáveis do mundo. "Isso tem a ver com o fato de não ter muito turista. Querem te dar o melhor possível. Não vejo isso em outros continentes", avalia.

Nesse sentido, ele destaca o Malawi no tema hospitalidade dizendo que faz jus ao slogan do país de "coração quente da África". "Você não consegue dormir na acomodação, pois as pessoas te chamam o tempo todo pra ficar na casa delas, para jantar", diz ele, que ficou hospedado na residência do taxista que o tinha levado para a acomodação. Também ficou na casa do guia com que fez um passeio. "É um acolhimento fora do comum".

Já o quesito segurança, segundo ele, tem muito mais do estereótipo do que riscos de fato. "Sempre vamos achar perigoso ver dois homens numa moto sem capacete numa rua escura, mas essa é uma cena comum por aqui", descreve.

Rafael acredita ainda que as pessoas brancas são tratadas como "reis" no continente que reproduz o racismo estrutural no tratamento dispensando, enquanto ele é tratado como um "irmão", o que acaba sendo positivo por não sofrer uma abordagem de turista.

Hoje, a maior parte da renda do viajante vem do Youtube e também de expedições que organiza para o continente africano, além das consultorias sobre viagens para o continente.

O youtuber figurou na lista que o Guia Negro faz anualmente sobre viajantes negros para serem acompanhados em 2023, mas nunca teve um veículo de mídia escrevendo sua história. Ele acredita que isso não tem a ver com a sua cor, mas pelo pouco marketing que faz. Contribuo com sua visão afirmando que o fato de mostrar fatos positivos de um continente pouco explorado, ao invés das mazelas, também pode render menos "gancho" no jornalismo tradicional.

Quando questiono o que o mundo não mostra sobre o continente africano, Rafael Souza responde com entusiasmo: "Não mostra pessoas, felicidade. A riqueza do continente não está relacionada aos bens, mas à cultura, amor, felicidade. Isso torna o continente africano o mais rico do mundo".

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Isso o mundo não mostra: uma viagem pela África rica e cultural

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17.01.2024

O continente africano conquistou o programador de sistemas Rafael Sousa, 32 anos, que viaja revelando o que o mundo não mostra: uma África cultural e rica. A viagem inicial que deveria ter durado seis meses, teve o dobro do tempo, passou por 20 países e deixou uma lição: "Não é lugar para ter pressa, é para se conectar com as pessoas. Quanto mais você puder vivenciar, melhor", constata ele.

Logo no começo da viagem, Rafael criou um canal no Youtube que começou a rentabilizar nos primeiros seis meses. Por lá, ele mostra a cultura dos povos nativos, sempre com visão da cultura da comunidade. "Isso viralizou e continua atraindo a atenção das pessoas", descreve ele.

Entre os fatos que marcaram suas viagens, Rafael esteve uma situação na Namíbia em que as mulheres da etnia himba vivem em regiões muito secas. "Ali, a água é escassa, então as pessoas tomam banho com fumaça com aroma que sai de uma pedra que cabe na mão e isso deixa elas muito cheirosas, sem precisar de água", relata.

Já a Etiópia, segundo ele, mantem culturas locais e usa um calendário diferente, que marca o ano de 2016 e tem dias que começam junto com o nascer do sol. "É muito curioso, pois a meia-noite é o horário do nascer do sol e os anos têm cerca de sete dias a menos do calendário ocidental, por isso, ainda estão em 2016".

Início da jornada

Nascido em São Paulo, Rafael morou quase a vida toda em Itaquaquecetuba (SP). Trabalhava na área de Tecnologia da Informação, tinha um emprego estável, quando decidiu morar na Irlanda para fazer intercâmbio em 2015. Além do inglês, a temporada rendeu pequenas viagens para países do continente europeu e um novo estilo de vida.

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