O fracasso da tentativa de golpe, a punição aos invasores e a relativa tranquilidade desde 8 de janeiro de 2023 não eliminaram um fator que foi determinante para os ataques e que se incorporou ao ideário de agentes políticos e de um largo contingente de eleitores: a tolerância com princípios antidemocráticos.

A ascensão do bolsonarismo elevou a uma posição central no debate público uma doutrina baseada em tendências autoritárias. O líder, seus auxiliares e muitos apoiadores seguiram uma linha que rejeitava controles institucionais, admitia o atropelo das regras do jogo e considerava o uso da força para fazer valer suas vontades políticas.

Grupos dominantes da direita brasileira mantêm essas preferências ou exibem complacência exagerada em relação a esses valores. A dependência da força política de Jair Bolsonaro e a ausência de um polo alternativo nesse campo une extremistas convictos, beneficiários políticos do radicalismo e aqueles que temem desafiar o ex-presidente.

Mais

A normalização, ao longo de quatro anos, dessas disposições autoritárias facilitou a disseminação da ideia de que aquele era um caminho legítimo ou, ao menos, uma transgressão aceitável quando usada a favor de um propósito político. Anabolizada por informações falsas, essa distorção foi absorvida por uma fatia ampla do eleitorado.

Esse é o efeito de um certo tipo de populismo. Nos EUA, uma pesquisa do Democracy Fund mostrou que 58% dos eleitores republicanos concordavam, em 2019, que Donald Trump poderia agir fora da Constituição se soubesse que era "a coisa certa". Só 12% dos simpatizantes do mesmo partido diziam, em 2022, que Joe Biden poderia fazer o mesmo.

No Brasil, a desconfiança artificial sobre o processo democrático e o antagonismo fabricado em relação às instituições estão sedimentados entre os bolsonaristas mais fiéis. A exclusão do ex-presidente do jogo eleitoral e a condenação de golpistas dificilmente mudará esse quadro de um ano para outro.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha

Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha

Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Leia tudo sobre o tema e siga:

Você já conhece as vantagens de ser assinante da Folha? Além de ter acesso a reportagens e colunas, você conta com newsletters exclusivas (conheça aqui). Também pode baixar nosso aplicativo gratuito na Apple Store ou na Google Play para receber alertas das principais notícias do dia. A sua assinatura nos ajuda a fazer um jornalismo independente e de qualidade. Obrigado!

Mais de 180 reportagens e análises publicadas a cada dia. Um time com mais de 200 colunistas e blogueiros. Um jornalismo profissional que fiscaliza o poder público, veicula notícias proveitosas e inspiradoras, faz contraponto à intolerância das redes sociais e traça uma linha clara entre verdade e mentira. Quanto custa ajudar a produzir esse conteúdo?

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.

QOSHE - Tolerância com valores autoritários resistiu ao fracasso do 8/1 - Bruno Boghossian
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Tolerância com valores autoritários resistiu ao fracasso do 8/1

8 1
06.01.2024

O fracasso da tentativa de golpe, a punição aos invasores e a relativa tranquilidade desde 8 de janeiro de 2023 não eliminaram um fator que foi determinante para os ataques e que se incorporou ao ideário de agentes políticos e de um largo contingente de eleitores: a tolerância com princípios antidemocráticos.

A ascensão do bolsonarismo elevou a uma posição central no debate público uma doutrina baseada em tendências autoritárias. O líder, seus auxiliares e muitos apoiadores seguiram uma linha que rejeitava controles institucionais, admitia o atropelo das regras do jogo e considerava o uso da força para fazer valer suas vontades políticas.

Grupos dominantes da direita brasileira mantêm essas preferências ou exibem complacência exagerada em relação a esses valores. A dependência da força política de Jair........

© UOL


Get it on Google Play