Na eleição de 2022, André Janones defendeu que, para derrotar o bolsonarismo, seria preciso usar algumas de suas armas. O deputado pôs a serviço de Lula um método que incluía desinformação contra seus adversários e adotou o rótulo autoelogioso de "janonismo cultural" para se referir à trapaça "do bem".

Políticos e eleitores costumam ter uma tolerância alta com a flexibilização de réguas morais, desde que ela seja aplicada a propósitos considerados nobres. Aliados abraçaram Janones porque se viram perdidos num lamaçal de mentiras da campanha digital. Aceitaram mergulhar por lá e fingiram acreditar que os pecados só ocorriam do outro lado.

Esse caminho exige um nível avançado de contorcionismo. Janones diz que nunca divulgou notícias falsas, ainda que tenha espalhado que Jair Bolsonaro era maçom e que Fernando Collor seria ministro de um novo governo do rival. Para o deputado, aquilo era um "blefe" ou uma "manipulação" de informações.

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Janones também diz que nunca propôs o esquema de "rachadinha" denunciado por dois assessores. Ele afirma que lançou apenas uma "vaquinha" para que funcionários ajudassem a quitar dívidas de campanha. A explicação não colou porque, numa gravação, o deputado faz referência aos salários dos auxiliares.

As evidências que existem até aqui sugerem que o deputado determinou o repasse de dinheiro em 2019, num momento em que o fantasma de Flávio Bolsonaro já assombrava o clã do então presidente. Por anos, o próprio Janones bateu na família com o argumento da "rachadinha".

O deputado diz que "nunca recebeu R$ 1 de salário de assessores" e que nenhum deles poderia provar o que diz. A grande questão é que operações dessa natureza deixam poucos vestígios, porque costumam ser feitas em dinheiro vivo. O lado irônico da história é que o caso Flávio Bolsonaro já mostrou ser possível rastrear saques em espécie nesse tipo de esquema. A mesma técnica pode responder se Janones diz a verdade ou só deixou de olhar o espelho.

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Técnicas do caso Flávio Bolsonaro podem complicar Janones

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01.12.2023

Na eleição de 2022, André Janones defendeu que, para derrotar o bolsonarismo, seria preciso usar algumas de suas armas. O deputado pôs a serviço de Lula um método que incluía desinformação contra seus adversários e adotou o rótulo autoelogioso de "janonismo cultural" para se referir à trapaça "do bem".

Políticos e eleitores costumam ter uma tolerância alta com a flexibilização de réguas morais, desde que ela seja aplicada a propósitos considerados nobres. Aliados abraçaram Janones porque se viram perdidos num lamaçal de mentiras da campanha digital. Aceitaram mergulhar por lá e fingiram acreditar que os pecados só ocorriam do outro lado.

Esse caminho exige um nível avançado de contorcionismo. Janones diz que nunca divulgou notícias falsas, ainda que tenha espalhado que Jair Bolsonaro era maçom e........

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