Flávio Dino ofereceu um termômetro preciso do incômodo provocado pela revelação das visitas feitas ao Ministério da Justiça pela mulher de um líder do Comando Vermelho. O chefe da pasta gastou energia para tentar se desvincular do caso, disse ser alvo de adversários e classificou o uso de seu nome na história como "calúnia" e "vil politicagem".

Dino tem uma boa dose de razão. Não há registro de que ele tenha recebido Luciane Barbosa Farias, esposa do traficante amazonense conhecido como Tio Patinhas, ou que soubesse do encontro dela com secretários de sua pasta. Mas o tom de indignação mostra que o ministro, querendo ou não, reconheceu o tamanho do problema.

A reação de Dino indica que ele considera impróprio que um ministro da Justiça se reúna com uma mulher acusada de ligação com a cúpula de uma facção. Se entende que um contato dessa natureza teria capacidade de provocar danos a sua imagem, a mesma régua deveria valer para os subordinados que de fato participaram das reuniões.

O ministério, no entanto, trata o caso como uma mera falha de controle de suas portas. Depois que o jornal O Estado de S. Paulo revelou as visitas, a pasta preparou uma norma para filtrar o acesso a seus prédios. O secretário Elias Vaz disse que Luciane foi a seu gabinete com uma ex-deputada e atribuiu a presença a um "suposto erro administrativo".

O erro não é "suposto" nem "administrativo". Na melhor das hipóteses, os integrantes da pasta poderiam ter evitado o problema se não gastassem tempo recebendo visitantes no atacado, posando para fotos nas redes sociais e, depois, rebatendo a gritaria da oposição.

Para discutir a violação de direitos humanos em presídios, é inevitável que o Ministério da Justiça receba advogados e entidades que defendem presidiários. Mas o caso sugere que a pasta precisa explicar melhor quem são seus interlocutores para a formulação de políticas de segurança, como essas conversas ocorrem e quais são seus resultados.

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Ministério precisa saber com quem conversa sobre segurança

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15.11.2023

Flávio Dino ofereceu um termômetro preciso do incômodo provocado pela revelação das visitas feitas ao Ministério da Justiça pela mulher de um líder do Comando Vermelho. O chefe da pasta gastou energia para tentar se desvincular do caso, disse ser alvo de adversários e classificou o uso de seu nome na história como "calúnia" e "vil politicagem".

Dino tem uma boa dose de razão. Não há registro de que ele tenha recebido Luciane Barbosa Farias, esposa do traficante amazonense conhecido como Tio Patinhas, ou que soubesse do encontro dela com secretários de sua pasta. Mas o tom de indignação mostra que o ministro, querendo ou não, reconheceu o tamanho do problema.

A reação de Dino indica que ele considera impróprio que um ministro da Justiça se reúna com uma mulher acusada de ligação com a cúpula........

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