O governo lançou uma campanha com o slogan "O Brasil é um só povo". Um dos vídeos fala em "paz e reconstrução de laços". O ministro Paulo Pimenta apontou que o país continua marcado pela polarização e disse que é preciso dialogar com "quem não votou no Lula".

O presidente já declarou que alguma polarização pode ser saudável. Ela ajuda a diferenciar projetos, energizar militantes e nutrir a rejeição a opositores. Quem está no poder, porém, prefere reduzir essa tensão para ampliar o alcance de suas ações.

Dias depois da estreia da campanha, o presidente tirou as medidas desse abismo. Lula reclamou de uma mulher que interpelou Dilma Rousseff num avião para ironizar o fato de a ex-presidente viajar na primeira classe. O petista se referiu à passageira como "uma fascista" e acrescentou que eles "estão em todo lugar".

Não se conhece a biografia daquela mulher. Suas escolhas revelam alguma coisa. A cobrança moralista se destaca pela baixa qualidade argumentativa, mas faz parte do jogo. Já o constrangimento público de autoridades ganhou contornos destrutivos com o caos das redes sociais.

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Lula provavelmente enxerga esse tipo de "fascista" como espécime particular da categoria "quem não votou no Lula": um antipetista incapaz de conversão. O rótulo, nesse caso, insinua pouco sobre suas convicções e muito sobre a tentativa de desqualificar suas atitudes como opositor.

Eleitores de Bolsonaro apoiaram um projeto notadamente radical. Se Lula acreditasse que todos são iguais, o governo não estaria atrás da simpatia de alguns. O uso indiscriminado de certos adjetivos vai acertar muitos fascistas, mas também reforça o vínculo de outros com o líder que de fato merece esse título.

Na última campanha, alguns petistas classificavam Tarcísio de Freitas como um fascista por adesão. Pode ser que Lula pense assim, mas o presidente recebeu o governador para entregar-lhe um cheque. Na cerimônia, o petista enalteceu a própria inclinação republicana. A fotografia valeu mais que qualquer propaganda.

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Lula e os fascistas 'em todo lugar'

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16.12.2023

O governo lançou uma campanha com o slogan "O Brasil é um só povo". Um dos vídeos fala em "paz e reconstrução de laços". O ministro Paulo Pimenta apontou que o país continua marcado pela polarização e disse que é preciso dialogar com "quem não votou no Lula".

O presidente já declarou que alguma polarização pode ser saudável. Ela ajuda a diferenciar projetos, energizar militantes e nutrir a rejeição a opositores. Quem está no poder, porém, prefere reduzir essa tensão para ampliar o alcance de suas ações.

Dias depois da estreia da campanha, o presidente tirou as medidas desse abismo. Lula reclamou de uma mulher que interpelou Dilma Rousseff num avião para ironizar o fato de a ex-presidente viajar na primeira classe. O petista se referiu à passageira como "uma fascista" e acrescentou........

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