"Os americanos são aqueles aliados que quando nos abraçam partem-nos sempre uma ou duas costelas", dizia o General Pedro Cardoso, considerado o "pai das informações" em Portugal. De facto, após a insistência do Secretário de Estado Americano Antony Blinken, em sintonia com António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas (durante duas semanas não pararam de exigir uma "pausa humanitária"), Israel cedeu e respirámos todos um pouco melhor. O 24 de Novembro foi-se prolongando dia após dia e durou mais ou menos uma "semana redonda".

Guterres continuou a insistir iniciando Dezembro a percorrer os artigos da Carta das Nações Unidas, um por um, à procura de uma justificação legal para poder forçar uma nova "pausa humanitária". É assim que chega ao Artigo 99º, o qual dá "carta branca" ao Secretário-Geral para "fazer subir" ao Conselho de Segurança qualquer assunto que ache que coloca em perigo a segurança e a paz mundial. É de salientar aliás, que o artigo 99º não era invocado desde 1989 (guerra no Líbano).

A "coisa lá subiu" de novo ao Conselho de Segurança para ser votada nova "pausa humanitária", não avançando a mesma por via de veto americano. As eleições presidenciais americanas do próximo ano, a possibilidade de Trump ser de novo candidato e eleito, mais o vasto eleitorado judeu que é preciso cortejar, ditaram a sorte das "costelas palestinianas" ainda por partir! Tal facto, provocou o aviso do Irão no Sábado, em jeito de ameaça, sobre a possibilidade de uma "explosão incontrolável" da actual situação no Médio Oriente. Aliás, ainda não aconteceu porque, palestinianos à parte, os entendimentos estavam a acontecer entre Israel e os vizinhos árabes, adquirido a não desbaratar no pós-guerra e o fim do HAMAS beneficia todas as partes. No entanto, a situação está cada vez mais perto de um "ataque epiléptico regional", sobretudo se continuarem os bombardeamentos aos hospitais, mais a impossibilidade de entrada de ajuda internacional.

Foi uma visita relâmpago de 24h, na qual o "Ponta de Comando", o equivalente ao "Air Force One" de Biden, foi escoltado por quatro caças da Força Aérea russa. As razões para esta visita aos Emirados Árabes Unidos (COP28) e à Arábia Saudita são fundamentalmente pela necessidade de estar próximo e intimo de quem se senta em cima de vastas reservas de hidrocarbonetos e ao mesmo tempo assegurar que a proximidade e intimidade russa com o Irão, em nada alterará uma

prioridade árabe/sunita da parte de Vladimir Putin. Tudo isto aconteceu a 6 de Dezembro, sendo que a 7 estava prevista (e aconteceu) uma visita oficial a Moscovo, do Presidente iraniano, Ebrahim Raisi. Logo, antes disso, era cautelosamente necessário "acertar azimutes" com o "Príncipe Herdeiro do Petróleo", Mohamed Bin Salman.

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Esta rara viagem ao estrangeiro desde o início da guerra na Ucrânia, também aconteceu porque os Emirados e a Arábia Saudita não são signatários do Tribunal Penal Internacional que emitiu um Mandado de Captura contra o Presidente russo, em Março último. Putin joga a cartada da mediação na guerra ao HAMAS, demonstrando ao mesmo tempo ao Ocidente que, apesar das tentativas deste em isolá-lo, ele continua a ter aliados e a jogar o jogo com "coringas" do tempo da Guerra Fria e outros que foi adquirindo ao longo deste século.

Relativamente à guerra na Ucrânia, uma nota final para recordar que há um ano "andávamos histéricas" com "o Inverno que está a chegar e os perigos que representa", mais a contra-ofensiva da Primavera que se preparava, mais ainda os F-16 que seriam entregues à Ucrânia e que constituiriam o "mudador de jogo", que conduziria à derradeira vitória! A Primavera/Verão não permitiu avanços significativos, o Inverno está aí de novo, os F-16 não voaram, o dinheiro está a acabar deste lado e aproximam-se as eleições presidenciais americanas, sempre limitadoras das acções de um Presidente candidato a um segundo mandato. No fim deste novelo, há ainda uma dúvida existencial do Planeta que só será tirada em Outubro próximo. E se Trump ganha de novo?

- Todos os domingos, na Telefonia da Amadora, entre as 21h e as 22h, Programa "Um certo Oriente", apresentado pelo Arabista António José, um espaço onde se misturam ritmos, sons e palavras, através das suas mais variadas expressões, pelos roteiros do Médio Oriente e Ásia.

Raúl M. Braga Pires, Politólogo/Arabista, é autor do site www.maghreb-machrek.pt (em reparação) e escreve de acordo com a antiga ortografia.

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O veto americano e o "Putin das "arábias"!

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14.12.2023

"Os americanos são aqueles aliados que quando nos abraçam partem-nos sempre uma ou duas costelas", dizia o General Pedro Cardoso, considerado o "pai das informações" em Portugal. De facto, após a insistência do Secretário de Estado Americano Antony Blinken, em sintonia com António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas (durante duas semanas não pararam de exigir uma "pausa humanitária"), Israel cedeu e respirámos todos um pouco melhor. O 24 de Novembro foi-se prolongando dia após dia e durou mais ou menos uma "semana redonda".

Guterres continuou a insistir iniciando Dezembro a percorrer os artigos da Carta das Nações Unidas, um por um, à procura de uma justificação legal para poder forçar uma nova "pausa humanitária". É assim que chega ao Artigo 99º, o qual dá "carta branca" ao Secretário-Geral para "fazer subir" ao Conselho de Segurança qualquer assunto que ache que coloca em perigo a segurança e a paz mundial. É de salientar aliás, que o artigo 99º não era invocado desde 1989 (guerra no Líbano).

A "coisa lá subiu" de novo ao Conselho de Segurança para ser votada nova "pausa humanitária", não........

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