O oito de setembro definiu o terramoto de Marraquexe-Safim, enquanto acontecimento do ano no reino cherifiano, levantando "desafios nunca antes navegados", desde o topo à base de uma "pirâmide gorda na base e sólida no vértice". Após a polémica inicial sobre a assistência internacional, a prova de maturidade surge quando não se cede à pressão mediática, ao negócio das reportagens de acordo com nacionalidades de beneméritos. Marrocos, que durante a pandemia foi quem mais cumpriu em termos de isolamento e de "largura de datas", comparado com Europa e África, provou ser capaz de ser senhor dos seus destinos quando o inesperado lhes bateu à porta. Como já o referi anteriormente, o "voluntarismo vertical que funciona dentro da pirâmide em ambos os sentidos", faz os marroquinos transcenderem-se a si próprios.

A iniciativa não é de agora, foi expressa no Discurso do Dia do Trono de 2021, mas agora é o assunto do dia em Marrocos, "dada a proximidade do Natal"! Trata-se de um pacote de ajuda social sem precedentes, com início de distribuição já em dezembro. Numa linha, gostaria de explicar a coisa da seguinte forma. Lembra-se dos "125 euros do Costa"? As famílias marroquinas mais carenciadas vão passar a receber isso por mês! (Tudo obedecerá a escalões, consoante número de filhos, recém-nascidos, viúvas, filhos de viúvas, filhos em idade escolar).

Na nossa recente passagem pelo Africa Investment Forum (AIF) de Marraquexe, tivemos oportunidade de falar com o Ministro Mustapha Baitas (dos Assuntos Parlamentares) e porta-voz do governo, que nos "descascou esta cebola de Natal", numa entrevista à margem do forum económico, logo após a sua comunicação no mesmo. A primeira "camada da cebola", a assistência médica universal já foi atingida através de um "seguro-doença" para os mais precários. A "segunda camada", através do Registo Social Unificado serão identificadas as famílias mais vulneráveis, no sentido de se acudir a partir da "franja-da-franja para dentro". A "terceira camada", o sustento dos reformados com reformas dignas e a "quarta camada", a implementação do equivalente ao nosso Subsídio de Desemprego, enquanto "fita-cola" que não permite ao cidadão cair no desespero da incerteza e do "não projecto".

Os montantes envolvidos, de dimensão inédita, dois mil e trezentos milhões de euros para 2024, projectando-se um aumento para o ano seguinte. A acrescentar ainda 900 milhões de euros anuais para o "seguro-doença". Enquadrado no espírito do AIF em encontrar novos modelos de investimento externo, os pontos apresentados pelo

Ministro Baitas fazem sentido, no sentido em que as subvenções do Estado não podem nunca serem preteridas enquanto solução. No caso de uma monarquia, funciona enquanto fio condutor entre a base e o topo. Nas conclusões do AIF, com 44 mil milhões de dólares alocados aos projectos apresentados, o discurso do Presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi A. Adesina, "o homem cujo laço se tornou símbolo de esperança em África", como foi descrito, o discurso final de Adesina, dizia, foi precisamente de reconhecer que Marrocos tem o ambiente de negócios perfeito em África, para africanos, tornando-se cada vez mais um farol para o continente, o que marca uma época e um estilo. Numa linha, está a acontecer!

Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias

- Todos os domingos, na Telefonia da Amadora, entre as 21h e as 22h, Programa "Um certo Oriente", apresentado pelo Arabista António José, um espaço onde se misturam ritmos, sons e palavras, através das suas mais variadas expressões, pelos roteiros do Médio Oriente e Ásia.

Raúl M. Braga Pires, Politólogo/Arabista, é autor do site www.maghreb-machrek.pt (em reparação) e escreve de acordo com a antiga ortografia.

QOSHE - O Marrocos pós-terramoto - Raúl M. Braga Pires
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

O Marrocos pós-terramoto

5 0
13.11.2023

O oito de setembro definiu o terramoto de Marraquexe-Safim, enquanto acontecimento do ano no reino cherifiano, levantando "desafios nunca antes navegados", desde o topo à base de uma "pirâmide gorda na base e sólida no vértice". Após a polémica inicial sobre a assistência internacional, a prova de maturidade surge quando não se cede à pressão mediática, ao negócio das reportagens de acordo com nacionalidades de beneméritos. Marrocos, que durante a pandemia foi quem mais cumpriu em termos de isolamento e de "largura de datas", comparado com Europa e África, provou ser capaz de ser senhor dos seus destinos quando o inesperado lhes bateu à porta. Como já o referi anteriormente, o "voluntarismo vertical que funciona dentro da pirâmide em ambos os sentidos", faz os marroquinos transcenderem-se a si próprios.

A iniciativa não é de agora, foi expressa no Discurso do Dia do Trono de 2021, mas agora é o assunto do dia em Marrocos, "dada a........

© TSF Rádio Notícias


Get it on Google Play