Recupero para a TSF uma publicação DN também assinada por mim, de três de Novembro de 2023, porque o mesmo faz sentido nos cenários prospectivos que sempre traçamos a cada "Lua Nova"! Sob o título «Sinai, "Transpalestina" e Israel Bíblico - das distopias!», diz assim:

"A hipótese recentemente levantada de Israel deslocar a população de Gaza para o Sinai, levanta questões interessantes e nada inocentes. A este cenário juntou-se um outro, o de Gaza ser entregue à Autoridade Palestiniana, após a aniquilação total do HAMAS.

Um ponto que poderá ser interessante nesta "borrasca, no pós-borrasca", é as cinzas serem tantas que a única coisa que se aproveite seja a data do sete de outubro de 2023, enquanto o antes e o depois. Ambas as partes precisam de "zerar" as contas, aliviar a dentada que dão na boca um do outro e cuja lógica tem sido, a de quem morde com mais força ganha! A retórica de ambas as partes vai no sentido da destruição total e a partir daí só as ideias sobrevivem. A ideia de um novo começo, não pode estar fora das distopias futuras, a bem das mentiras novas que nos farão aguentar mais mil anos, sem rebentarmos com a bomba!

Deslocar a população de Gaza para o Sinai, encontrará a resistência do Presidente do Egipto apoiado pela nação em peso. A mesma encontra raiz profunda muito para além da Questão Palestiniana, podendo-se resumir a explicação a uma imagem, a bandeira de Israel. A Estrela de David centrada no meio de dois traços azuis sobre fundo branco. Ora os dois traços azuis representam os rios Nilo e Eufrates, o Israel Bíblico legitimado em Genesis 15:18, que só depois de unificado cumprirá a condição para a vinda do Messias. Cá está, Deus nos dois lados!

A opção "Sinai para os palestinianos", cuja vastidão e inóspito os diluirá mal passem a fronteira, seria um interessante terceiro ensaio israelita no sentido do Nilo, após o segundo (Guerra dos 6 Dias, 1967 - Sinai ocupado até 1982) e o primeiro, outubro de 1956 a março de 1957, durante a Crise do Suez, de outubro/novembro de 1956.

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Ou seja, no capítulo das distopias futuras, este também é um cenário de novo começo a considerar, entre muitos outros. Por exemplo, a Jordânia, com grave pressão demográfica por parte da descendência de origem palestiniana, poderá lembrar-se de

facilitar território colado à Cisjordânia (Rio Jordão/Mar Morto) passando esta a ganhar uma forma mais redonda, englobando território cedido pelo Rei Abdullah II, no sentido de aliviar os muros numa "micro-Palestina" cada vez menos funcional. No fundo, abdicar de parte do deserto jordano para os palestinianos, é fazê-los voltar aos grandes espaços a que pertencem. E, nesta barganha distópica, os palestinianos também terão que criar o desejo em enterrarem as chaves das casas que já não existem e construírem um novo devir, o mesmo dos israelitas, de viverem em paz, mesmo que separados por muros. Aliás, dizem que no gabinete do Primeiro-Ministro de Israel, há um quadro da parede que diz "Good walls make good neighbors" (bons muros fazem bons vizinhos), em substituição das "fences" (vedações), de um poema de Robert Frost, de 1914.

A distopia perfeita, seria ver palestinianos à solta pelo Sinai e numa "Transpalestina jordana" sob tutela real, enquanto israelitas ensimesmados no seu fado, rezam pela chegada do Messias dentro dos muros que construíram, dentro do passado que lhes garante o futuro, dentro da sua própria distopia!"

O Egipto, de volta à liderança das negociações, recupera uma prioridade que o "nevoeiro da Primavera Árabe" tinha colocado em questão e daí a importância de os serviços de inteligência egípcios continuarem a terem o exclusivo deste dossiê, o que só aconteceria consolidando a continuidade do regime militar de Moubarak. O General-Presidente Sissi tem garantido esse equilíbrio e até Outubro poderá garantir mais um projecto de "Palestina útil", de uma "Palestina minimamente funcional, com portões em certos muros". Uma vitória neste tabuleiro, garantirá um reforço do Presidente do Egipto, do regime militar que lidera, do Cairo e do Nilo enquanto centro geodésico da "política das soluções" para o Médio Oriente. Com permanente necessidade em se legitimar consensual e popularmente, bem como junto das fileiras, será importante que o General-Presidente Sissi tenha percebido, desde as 12 badaladas, a oportunidade que 2024 representa para si, para o Egipto e para a Palestina que resta, em território e em saúde física e mental. "Bon Courage Habibis"

A Acontecer / A Acompanhar

- Todos os domingos, na Telefonia da Amadora, entre as 21h e as 22h, Programa "Um certo Oriente", apresentado pelo Arabista António José, um espaço onde se misturam ritmos, sons e palavras, através das suas mais variadas expressões, pelos roteiros do Médio Oriente e Ásia.

Raúl M. Braga Pires, Politólogo/Arabista, é autor do site www.maghreb-machrek.pt (em reparação) e escreve de acordo com a antiga ortografia.

QOSHE - O 7 de Outubro de 2024, ou "O Ano da Palestina"? - Raúl M. Braga Pires
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O 7 de Outubro de 2024, ou "O Ano da Palestina"?

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02.01.2024

Recupero para a TSF uma publicação DN também assinada por mim, de três de Novembro de 2023, porque o mesmo faz sentido nos cenários prospectivos que sempre traçamos a cada "Lua Nova"! Sob o título «Sinai, "Transpalestina" e Israel Bíblico - das distopias!», diz assim:

"A hipótese recentemente levantada de Israel deslocar a população de Gaza para o Sinai, levanta questões interessantes e nada inocentes. A este cenário juntou-se um outro, o de Gaza ser entregue à Autoridade Palestiniana, após a aniquilação total do HAMAS.

Um ponto que poderá ser interessante nesta "borrasca, no pós-borrasca", é as cinzas serem tantas que a única coisa que se aproveite seja a data do sete de outubro de 2023, enquanto o antes e o depois. Ambas as partes precisam de "zerar" as contas, aliviar a dentada que dão na boca um do outro e cuja lógica tem sido, a de quem morde com mais força ganha! A retórica de ambas as partes vai no sentido da destruição total e a partir daí só as ideias sobrevivem. A ideia de um novo começo, não pode estar fora das distopias futuras, a bem das mentiras novas que nos farão aguentar mais mil anos, sem rebentarmos com a bomba!

Deslocar a população de Gaza para o Sinai, encontrará a resistência do........

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