menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Bares Brasil afora X – Baía da Traição etc.

3 1
previous day

Em 1501, uma expedição comandada por Américo Vespúcio parou ali, perto do litoral. Viram na praia um grupo de indígenas chamando para que fossem lá. Mandaram um grupo num bote, que desembarcou na praia e... foi comido (oralmente!). Os marinheiros viraram churrasco. Por isso, Vespúcio e sua trupe deram ao lugar o nome Baía da Traição.

É um lugar bonito, até hoje quase inteiro reserva indígena dos Potiguara (comedores de camarão, em tupi – embora na época comessem gente também, re-re...).

Lá pelos anos 1990, o amigo Jô Amado, jornalista vindo da imprensa alternativa e, na época, recém-saído do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, convenceu a mulher, a Alice, a pedir demissão do Banco do Brasil e se mandarem juntos pro Nordeste, um lugar que fosse gostoso e quente (o Jô odiava o frio). Ela topou. Ah, ganhou uma graninha razoável, pois sua saída do banco foi num plano de demissão voluntária, que “premiava” quem topasse se demitir. Puseram a “mudança” num fusca e foram pelas estradas próximas ao litoral (boa parte, a BR-101), entrando em tudo quanto era estradinha que desse para cidades praianas. Onde gostassem parariam.

Uns meses depois, o ex-presidente do nosso sindicato, Robson Moreira, amigo de longa data do Jô, me telefonou:

— O Jô mandou te avisar que está morando num lugar que você não conhece.

Pois é, muita gente acha, há muito tempo, que conheço tudo quanto é lugar do Brasil, coisa logicamente infundada. Estive sim em todos os estados e até no então território de Fernando de Noronha, mas por causa dessa fama tentei me lembrar de todos os lugares que conheço e não chegam a 600, entre os 5570 municípios brasileiros.

Perguntei ao Robson que lugar era esse escolhido pelo Jô e pela Alice.

— Baía da Traição — respondeu seco.

Ri. pois eu conhecia, sim, estive lá várias vezes, a primeira em janeiro de 1977, quando era um povoado ainda não promovido a cidade, no litoral norte da Paraíba. E descrevi o lugar pro Robson, falando de um recife que parece uma estrada que passa “raspando” na ponta das Trincheiras e avança pelo mar aberto. Depois o Robson me contou que telefonou pro Jô contando isso e que nosso amigo ficou injuriado.

A Alice e o Jô abriram um bar e restaurante a beira-mar, o Sol Nascente, nome dado porque a Alice era nissei e porque o local era próximo ao ponto extremo leste do Brasil e das Américas (nisso não incluem Fernando de Noronha, que é mais ao leste ainda). Com essa notícia, fui lá encontrar os amigos, e fiquei freguês. O problema era que cobravam de mim e da minha mulher menos do que o custo do que consumíamos. Numa semana, consumimos o que avaliei em mais de mil reais na época e nos cobraram R$ 150 e não aceitaram nada mais. Não houve jeito.

E o tratamento que recebíamos, vixe!, era bom demais. Lagosta e camarão lá não........

© Revista Fórum