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A felicidade obrigada em tempo de Natal

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Todos os anos, à medida que o calendário se aproxima de Dezembro, o espaço público, mediático e familiar começa a encher-se de uma exigência implícita: é suposto estar feliz. O Natal surge envolto numa atmosfera de luzes, reencontros, mesas fartas e sorrisos obrigatórios, como se a tristeza, a ambivalência ou a solidão fossem emoções inconvenientes, quase indecorosas, nesta época. Todavia, é precisamente aqui que a Psicanálise nos convida a suspender o imperativo da alegria e a escutar o que se agita por detrás desta felicidade prescrita. Impele-nos a ouvir, e dar voz, ao que sentimos.

Parafraseando Fernando Pessoa…

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal.
E o frio que ainda é pior.

O Natal é um tempo de intensa carga simbólica. Convoca a infância, a família, o amor, a ideia de pertença e de reparação. Reclama também, inevitavelmente, a perda, a falta, os conflitos não resolvidos e as feridas antigas, que insistem em regressar quando somos chamados ao reencontro. A idealização social do “Natal perfeito” entra muitas vezes em choque com a realidade psíquica de quem o vive, gerando uma tensão difícil de suportar.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

…continua Pessoa.

Para a criança, o Natal organiza-se em torno da figura mítica do Pai Natal, depositário do desejo e da espera. O presente surge como prova de que se foi visto, lembrado, amado. Presentifica-se quem dá – “Estou aqui e lembrei-me de ti: estou presente” —, sente-se valorizado quem recebe.........

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