menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Eliane Brum e a noite de barriga para cima

9 5
03.12.2025

Não é só Paulo Raimundo que ouve com especial atenção as crónicas do Alberto Gonçalves na rádio Observador. À frente de um volante, acompanhado do meu filho que, lá atrás na cadeirinha, pacientemente aguarda que vençamos o trânsito da VCI, sempre que a hora coincide escuto as sábias reflexões e as consequentes demolições de Ideias Feitas. A 19 do presente mês, já de noite, mas ainda apanhando o mesmo dia da crónica intitulada A Jornalista Brasileira e a Sífilis Portuguesa, começo a escrever estas linhas. Ambas as ações, a vertente oral e a vertente escrita, vêm a propósito de um texto (presente no catálogo) da “mais premiada jornalista brasileira”, Eliane Brum, que a pretexto de uma exposição na Fundação Calouste Gulbenkian (reunindo obras de arte, vídeos, peças musicais e documentos vários, a exposição ‘complexo brasil’ propõe uma viagem pela cultura brasileira, procurando problematizar as relações seculares entre o Brasil e Portugal e promovendo o diálogo entre os dois países), escreveu em tom assumidamente acintoso aquilo que em seu entender é a culpa indelével dos portugueses quanto à usurpação e apropriação dos corpos e terras brasileiras. A crítica tem o sugestivo título: Carta de Desfundação do Brasil — Dirigida aos descendentes dos súditos do Rei Dom Manuel I.

Considerações prévias e gerais: não iremos, eu e o leitor, perder tempo com o combate gratuito ao wokismo; em segundo lugar, não nos vamos alongar a analisar os processos históricos e como a História deve ser corretamente, segundo as melhores práticas científicas, lida e interpretada; em terceiro lugar, aconselho vivamente o leitor a ouvir o podcast do episódio em causa (e todos os outros); em último lugar, vou tentar não ser redundante e não comparar muito mal com os verdadeiros focos inspiradores deste artigo – o dito episódio e o seu autor.

Eliane Brum surfa a bem conhecida e mal frequentada onda rousseauniana. Proveniente de um rosseaunismo fin de siècle, a jornalista trabalha na má-consciência individual e na degradação dos valores ocidentais. Nas palavras de Nietzsche, pretende contribuir para a inversão axiológica........

© Observador