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A outra redenção da democracia

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04.11.2025

É um dos equívocos mais frequentes do olhar moderno sobre a antiguidade: o de pensar a polis como se fosse um Estado, uma “entidade jurídica abstrata”, noção que só surge com a modernidade. Pelo contrário, e como chama a atenção José Ribeiro Ferreira, “a pólis era o concreto dos cidadãos” pelo que os gregos não falavam em Esparta, Atenas ou Corinto – antes referiam o seu povo: os Espartanos, os Atenienses, os Coríntios. Afinal,

“Para o Grego, os cidadãos é que interessavam; eram eles que constituíam o cerne da pólis e não o aglomerado urbano.”

A ligação ao território não era, assim, essencial: em caso de catástrofe, natural ou militar, os cidadãos podiam escolher outro local para construir ou manter a sua “comunidade de hábitos, normas e crenças”.

Notemos a consequência deste facto: a pertença ao grupo era eminentemente étnica, isto é, baseada num ethos que tinha não só uma base genética (a pertença a determinadas famílias ou tribos), mas também cultural. E um dos aspetos fundamentais dessa pertença cultural era a dimensão religiosa, uma vez que cada cidade prestava culto a deuses próprios, que protegiam a cidade e os seus membros. A cidadania passava de pais para filhos e só muito excecionalmente era concedida a estrangeiros. É por isso que Fustel de Coulanges diz em A Cidade Antiga:

“Podia acolher-se bem o estrangeiro, velar por ele, estimá-lo mesmo, se fosse rico........

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