menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Não é a geração. São os pais

8 3
previous day

A Geração Alfa, filhos da Geração Y, cresce no berço da tecnologia e sob os holofotes das manchetes que os classificam como a “geração perdida”. Porém, antes de julgar, talvez devêssemos fazer uma pausa e questionar: de onde vem realmente o problema?

É fácil apontar o dedo aos mais novos, mas ignora-se que esta geração foi moldada, quase copiada, pelos próprios pais. Se existe algo desajustado no modo como estes jovens se apresentam ou comportam, isso reflete o modelo parental que receberam. E esse modelo, por sua vez, é frequentemente marcado pelas experiências adversas que muitos destes pais viveram na infância.

Para agravar, muitas destas crianças atravessaram fases críticas do seu desenvolvimento durante a pandemia de Covid-19. Poderá esse contexto ter influenciado a forma como hoje se relacionam com o mundo?

Mas afinal, quem integra a Geração Alfa? São todas as crianças nascidas a partir de 2010, crianças que, muitas vezes, antes mesmo de saberem falar ou andar, já estão profundamente expostas aos ecrãs.

Antes de analisarmos comportamentos individuais ou responsabilidades familiares, é fundamental olhar para o contexto nacional em que a Geração Alfa cresce. Portugal apresenta indicadores que não podem ser considerados meras coincidências ou desvios estatísticos isolados. Pelo contrário, refletem problemas estruturais profundamente enraizados no ambiente familiar e social que moldam o desenvolvimento das crianças.

Portugal é, atualmente, o país europeu que reporta o maior número de situações adversas na infância. Estas adversidades incluem ambientes familiares instáveis, práticas educativas inconsistentes, exposição precoce a stress e dificuldades económicas que acabam por condicionar a segurança emocional. Este cenário cria condições que afetam diretamente a capacidade das crianças para desenvolverem competências sociais, emocionais e cognitivas de forma equilibrada.

A estes dados soma-se outro indicador preocupante: Portugal é o segundo país com mais sintomas depressivos e pessimistas reportados. A prevalência de sentimentos de desânimo, ansiedade e falta de motivação entre crianças e jovens não surge subitamente.

É o resultado de um clima emocional que se constrói, em grande parte, dentro de casa. Quando o ambiente familiar é marcado por stress, instabilidade ou dificuldade na gestão emocional, a criança internaliza esses padrões e reproduz o que observa.

Assim, ao invés de nos apressarmos a rotular a Geração Alfa como “difícil”, “preguiçosa” ou “desmotivada”, precisamos reconhecer que os seus comportamentos são o reflexo direto das condições em que crescem. A saúde mental infantil não está desligada da qualidade das relações familiares, da presença emocional dos pais ou da forma como estes lidam com os próprios desafios. Ignorar esta relação é perpetuar uma narrativa injusta e incompleta sobre os mais novos.

Esta Geração é a primeira a crescer totalmente........

© Observador