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Centauros, quimeras, esfinges, meninas de pilinha, minotauro

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O meu filho não pára de ver o filme Hércules, da Disney. Está obcecado com os deuses gregos e com as criaturas bizarras que entram na história, como sátiros, moiras e titãs. Quando não está a ver o filme, está a inventar brincadeiras com as personagens. Às vezes é o fanfarrão centauro Nessus, outras Pégaso, o divertido cavalo alado. A mim, devido ao estrabismo, calha-me sempre ser um ciclope. Mais uma das humilhações da paternidade.

Por estar tão habituado é que, quando explodiu nas redes sociais a polémica do desenho animado da RTP2 , não alinhei no sobressalto. Minto: alinhei um bocadinho ao perceber que, em 2025, ainda há crianças que, coitadas, têm se assistir aos seus desenhos animados na RTP2, um canal programado por pessoas que consideram que o Vasco Granja era muito comercial.

Mas não me escandalizei como os outros pais. O meu filho está habituado a minotauros, a harpias, ao ursinho Paddington, de maneira que raparigas com pilinha é só mais um dos seres fantásticos que, à medida que a infância ficar para trás, ele vai perceber que são fruto da imaginação. Como o Pai Natal e a Fada dos Dentes, que o miúdo já suspeita não existirem, mas por enquanto dá jeito fingir que sim, pelos presentes. Preocupa-me tanto o meu filho achar que meninas podem ter pilinhas por ter visto os desenhos animados na RTP, como acreditar que os ouriços-cacheiros podem ser velocistas por causa do Sonic. Não me parece que haja grande perigo de a crença durar muito, até porque não tem dos argumentos mais apelativos que leve os petizes a acreditar. Por exemplo, o Peter Parker teve de ser mordido por uma aranha radioactiva para se tornar no Homem-Aranha; o Bruce........

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