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O diálogo de surdos das negociações de paz

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wednesday

No momento em que escrevo (15 de dezembro), ainda decorrem as reuniões em Berlim, entre EUA e Ucrânia, com presença de vários parceiros europeus. Não se sabe, pois, o que dali sairá, e muito menos a consequente reacção formal da Administração Trump.

Mas há verdades que são evidentes para quem observa os factos sem a névoa da ideologia e das proclamações, e é isso que aqui procuro fazer: ordenar o que se sabe, não para adivinhar o futuro, mas para compreender o presente e iluminar as decisões.

A paz na Ucrânia é um campo de jogo onde convergem essencialmente quatro actores com interesses muito diferentes: a Ucrânia, a Rússia, a Administração Trump e a chamada Coligação dos Dispostos, um alargado agregado europeu que inclui o Canadá e, numa órbita mais distante, o Japão e a Austrália.

O conflito começa, desde logo, no próprio conceito de “paz”. Para Moscovo e para os seus propagandistas no Ocidente, paz significa Império e a submissão da Ucrânia. Para Kiev, é exactamente o oposto: integridade territorial, soberania e retirada das forças invasoras. Para a Administração Trump, a paz parece significar oportunidades de negócio, encenação de grandeza presidencial e uma intrigante necessidade de agradar a Vladimir Putin. Para a Europa, a paz significa segurança duradoura das fronteiras e restauração mínima de uma ordem internacional baseada em regras, o que, no caso presente, implica conter a pulsão imperial russa.

É aqui que o problema se complica. Neste momento, Trump tenta impor à Ucrânia um plano quixotesco, estrategicamente insustentável para Kiev. Aparentemente Trump acredita que dois ou três acordos comerciais bastam para transformar o regime imperial russo, numa potência satisfeita. Mas, até ver, notas de dólar não neutralizam mísseis, bombas e drones.

Seja como for, Trump quer desesperadamente um acordo.........

© Observador