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Um só Salazar em três pessoas distintas

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09.11.2025

Em 25 de Março de 2007 teve lugar a finalíssima do concurso da RTP Os Grandes Portugueses. Era uma data importante para a estação pública de televisão, que fazia meio século. Para a comemoração, que coincidia com o final do programa, estava previsto um banquete. A mesa estava posta nos estúdios e era farta… até que se soube o resultado do concurso. Então, apagaram-se os holofotes, desceu sobre a festa uma cortina de incrédulo desconcerto, mergulhando-a como que numa longa noite de clandestinidade, e o banquete para ali ficou, suponho que intocado.

Os finalistas do concurso incluíam reis, como o fundador D. Afonso Henriques ou D. João II, o Príncipe Perfeito, Nun’Álvares Pereira, o Condestável, figuras de proa da expansão marítima, como o Infante D. Henrique e Vasco da Gama, grandes poetas, como Luís de Camões e Fernando Pessoa, e estadistas controversos, como o marquês de Pombal.

Mas apesar do peso histórico de todos esses grandes portugueses, os primeiros três entre os dez que ficaram das sucessivas eliminatórias eram todos do século XX e todos “políticos”: Salazar, da direita nacional, conservadora e autoritária, Álvaro Cunhal, da esquerda comunista, internacionalista e totalitária e Aristides Sousa Mendes, um centrista, celebrado pela sua acção humanitária, ao facilitar, no consulado de Portugal em Bordéus, passaportes portugueses para judeus perseguidos.

Ganhou Salazar, com 41% dos votos, seguido por Álvaro Cunhal, com 19,1%, e Aristides Sousa Mendes, com 13%. Sousa Mendes era defendido pelo José Miguel Júdice, Cunhal pela deputada Odete Santos, e Salazar por mim.

Diga-se que, na altura, mais ainda do que agora, não havia quem quisesse dar-se ao trabalho de defender Salazar fora do aconchego do lar ou de um táxi – onde geralmente se........

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