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Os homens do sistema

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26.10.2025

Os sistemas políticos têm os seus valores, as suas instituições, as suas retóricas, as suas práticas e os seus símbolos. E acabam também por encarnar nos políticos que os dominam e moldam.

Na Primeira República, a grande figura do sistema, o homem do regime, foi, incontornavelmente, Afonso Costa; um livre-pensador ao modo dos radicais franceses, inimigo jurado do Catolicismo e fiel à Maçonaria. Costa era um político com sentido de poder, inteligente, bon-vivant. Dizia-se que a República não podia viver com ele nem sem ele. Do mesmo modo que perseguiu os monárquicos e católicos, reprimiu, à esquerda, proletários e sindicalistas. Criou um sistema em que as eleições se ganhavam na secretaria, através da legislação eleitoral. Havia liberdade, em princípio, mas os jornais monárquicos e católicos eram assaltados “pelo povo”, sempre que se excediam.

Foi o criador do sistema e depois do sidonismo viu, com lucidez, que o sistema criado já não tinha grande viabilidade. Nomeado representante português às negociações de Versalhes, foi ficando por Paris, exercendo advocacia de negócios, e ali viria a morrer, em 1937, eterno conspirador contra a Ditadura Militar e o Estado Novo.

Os novos regimes têm geralmente na sua génese o descontentamento com a disfuncionalidade do que está em vigor: a generalidade dos cidadãos não se preocupa muito com os princípios ideológicos do poder, enquanto o poder garantir lei e ordem e uma economia em que possam viver, criar os filhos e melhorar de vida.

Quando os sistemas não garantem isto e se fecham, como a Primeira República se fechou nos anos Vinte, entram em acção forças de fora do sistema político. E no Portugal de há cem anos, num país com um império colonial africano, os militares, as Forças Armadas, Exército e Marinha, eram politicamente importantes. Pode até dizer-se que eram os principais agentes, por acção ou inacção, das mudanças políticas, desempatando o sistema quando o sistema bloqueava. Ora em 1926 havia esse bloqueio: havia a força dominante do sistema. os “democratas”, já sem Afonso Costa, sucedido por António Maria da Silva, o “engenheiro das revoluções”; havia uma oposição conservadora, com católicos, monárquicos e republicanos, críticos dos “democratas” e do seu sistema; e havia uma “esquerda........

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