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Autárquicas: realidade e fantasia

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19.10.2025

Estamos há muito habituados aos discursos pós-eleitorais. Todos ganham, nem que, para isso, tenham de recorrer à “morte” do inimigo. É uma manipulação compreensível, “it’s not personal, it’s strictly business”, como dizia Michael Corleone n’O Padrinho antes ou depois da carnificina. Mas nem sempre aquilo a que assistimos é boa ficção. Nestas eleições autárquicas, por exemplo, houve atropelos à realidade e pantominas que ultrapassaram largamente a pior das novelas mexicanas.

Como em quase todos os países europeus onde impera uma percepção de decadência, e mais ainda numa sociedade como a do Portugal da Terceira República, o jogo político é mais condicionado pelo inimigo a neutralizar do que pelo amigo a apoiar. O dualismo schmittiano (e, de certo modo, maquiavélico) impôs-se.

O fim do império ultramarino não significou o fim da independência nacional ou uma absorção peninsular, como alguns temiam; mas deixámos de ser um país importante – embora exótico e “isolado” – para passarmos a ser um país pouco importante – embora comum e acarinhado pela comunidade internacional. Passámos também, na política interna, a correr atrás do prejuízo. No PREC, uma larguíssima frente que ia da direita escapada às purgas do 28 de Setembro de 74 e do 11 de Março de 75 a Mário Soares, tratou de evitar o perigo comunista e esquerdista. Os comunistas, ao tempo, eram de obediência russa e, na altura, os interesses da URSS – que coincidiam com os do MFA – eram, sobretudo, garantir que a descolonização se fizesse a favor dos partidos pró-soviéticos. Assim, em 11 de Novembro, Angola passava directamente da soberania de Lisboa para a guerra civil – mais uma conquista de Abril, oferecida pela ex-metrópole aos ex-colonizados… e aos ex-colonos, que assim puderam “retornar”. Por isso, com a descolonização feita, o PCP deixou de resistir aos Comandos no 25 de Novembro, para desgosto de alguns militantes mais aguerridos e mais desatentos........

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