A 9 de Setembro de 2016, no jantar de recolha de fundos “LGBT por Hillary” em Nova Iorque, a candidata democrática à presidência dos Estados Unidos punha num mesmo saco, o dos “deploráveis”, a maioria dos apoiantes de Donald Trump. E, encorajada pelos risos e aplausos da assistência, prosseguia, especificando o conteúdo do dito “basket of deplorables”, carregado de “racistas, sexistas, homofóbicos, xenófobos e islamofóbicos”; carregado, enfim, de desqualificados opositores políticos.

Só Deus sabe o que leva um eleitor, sobretudo um indeciso de última hora, a votar nesta ou naquela candidatura numa situação de oposição radical, mas a bravata de Hillary talvez lhe tenha custado a eleição. Caricaturar os adversários políticos de forma maniqueísta e enfiar num mesmo saco milhões de votantes, chamando-lhes deploráveis, tinha tudo para ter consequências desagradáveis. E teve, porque, ao contrário do que imaginam algumas pseudo-elites, o povo não é estúpido.

Com as transformações geopolíticas que vieram com o fim da Guerra Fria, as classes populares e parte das classes médias do Ocidente viram-se marginalizadas e penalizadas pelo “sistema”. Foi, também, o preço da melhoria de vida nas periferias asiáticas, mas o que é certo é que quem o pagou foi parte significativa dos cidadãos da América do Norte e da Europa ocidental. Era, por isso, natural que a mudança do panorama político do Ocidente viesse pela mão dos lesados, de “deploráveis” como os operários das fábricas de automóveis de Detroit e das siderurgias de Pittsburgh ou os trabalhadores comunistas franceses que, no início do século XXI, passavam do PCF para o Front National.

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A força dos “deploráveis”

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27.01.2024

A 9 de Setembro de 2016, no jantar de recolha de fundos “LGBT por Hillary” em Nova Iorque, a candidata democrática à presidência dos Estados Unidos punha num mesmo saco, o dos “deploráveis”, a maioria dos apoiantes de Donald Trump. E, encorajada pelos risos e aplausos da assistência, prosseguia, especificando o conteúdo do dito “basket of deplorables”, carregado de “racistas, sexistas, homofóbicos, xenófobos e islamofóbicos”; carregado, enfim, de desqualificados opositores........

© Observador


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