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A universidade depois do "prompt"

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12.10.2025

Nos últimos dias, em São Francisco, a OpenAI organizou o seu DevDay como quem inaugura uma nova praça pública da era digital. Anunciaram-se números em cadência triunfal: quatro milhões de programadores semanais, oitocentos milhões de utilizadores do ChatGPT, mais de seis mil milhões de tokens por minuto; métricas que fariam inveja aos velhos barões do aço. Sam Altman garantiu que “o futuro da construção requer apenas uma boa ideia”. Tradução livre: a fricção técnica é um detalhe; o resto é imaginação e prontidão. No centro do palco, um novo léxico operativo, Apps dentro do ChatGPT, um Agent Kit que promete orquestrar tarefas, um Codex que refratora e reescreve software em tempo real, e modelos com mais razão do que cerimónia: GPT-5 Pro para problemas difíceis, GPT-Realtime Mini para uma voz barata, mas convincente, e Sora 2 a emparelhar imagem com som e, se preciso, com a nossa própria fotografia. Em suma, a promessa de que o que antes levava meses agora leva minutos, desde que a ideia seja decente e o prompt, feliz.

Há, porém, uma ironia discretíssima e por isso mais contundente. Quanto mais as máquinas parecem inteligentes, mais evidente se torna que não têm consciência. O GPT manuseia a linguagem com a elegância de um ensaísta, prevê contextos, encaixa referências e responde com uma segurança às vezes desconcertante. Mas é uma inteligência de superfície: sintaxe sem semântica. Fala de amor sem o sentir, de ética sem o peso do escrúpulo, de economia sem o nervo do risco. O Sora produz imagens comoventes e coreografa movimentos com uma verosimilhança quase insultuosa para o cinema de orçamento reduzido. Mas não “vê” o que produz; simula. Os agentes, esses novos pequenos chefes do automatismo, planeiam, avaliam, chamam outras IAs, refazem passagens e regressam com uma confiança de estagiário prodígio. Vontade? Apenas a de um cálculo que otimiza a próxima ação. É a vitória da forma sobre a essência, o triunfo de uma teatralidade estatística. A máquina finge ver; nós é que insistimos em confundir visão com brilho.

Nada disto seria especialmente dramático se, ao mesmo tempo, a cultura do esforço e do confronto intelectual não estivesse a encolher nos lugares onde deveria florescer. Veja-se Harvard, essa catedral do mérito, que recusa, com método, 97% dos candidatos. Um relatório interno, notícia recente do New York Times descreve um campus onde demasiados........

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