Os conflitos do governo com o Banco Central se amainaram. A inflação caminha para atingir o centro da meta até 2025, e as taxas de juros estão caindo, dando ao governo um alento. O PIB pode surpreender neste ano. Ministro da Fazenda e presidente do Banco Central sairão no mesmo bloco neste Carnaval.

Todavia, o bloco do “Gasto É Vida” continuará sua farra, como se depreende da leitura dos três jornais de ampla circulação nacional, no último domingo – “Folha de S.Paulo”, “Estadão” e “O Globo”.

Em seu editorial, a “Folha”, utilizando índices padronizados do FMI, mostrou que os gastos públicos, no Brasil (2021), como proporção do PIB, chegaram a 43,2%, nos países ricos, em 45,3%, e, nos emergentes, bem menos, 33,2%. Aqui, não apenas os gastos do governo são altos, mas, sobretudo, mal-alocados e ineficazes. Por exemplo, na educação concentram-se no ensino superior, enquanto os resultados dos testes Pisa, para o ensino médio, são vergonhosos, e a renda é bastante desigual.

Parte considerável da expansão dos gastos, que não está apenas sob a responsabilidade do Executivo, foi mostrada numa matéria do “Estadão”, “Penduricalhos do Judiciário e do MP custaram R$ 9,3 bilhões em 2023”. O jornalista Daniel Weterman desvendou a cadeia de vinculações entre as remunerações e benefícios dos juízes, procuradores e promotores da União e dos Estados, construída por meio de autorizações aprovadas pelos Conselhos Nacionais de Justiça e do Ministério Público. O céu é o teto. Talvez por isso, em seu editorial, a “Folha” tenha observado que essas são as causas para que os gastos com o Judiciário no Brasil (1,6% do PIB) não encontrem paralelo entre as maiores economias.

O jornal “O Globo” abordou a avidez dos parlamentares sobre o Orçamento da União, na matéria “Apetite aguçado”. É impressionante que, em uma década, a apropriação dos parlamentares sobre o Orçamento da União saltou de 4,65% (2014) para 20,05% (2024). Marcos Mendes, em estudo de 2022, demonstrou que o Brasil destoa dos países da OCDE nesse quesito. Somente EUA, Eslováquia e Estônia aparecem acima da marca de 2% de recursos livres distribuídos por parlamentares. Naquele ano, o percentual do Brasil chegou a 24,6%! Hélio Tolini afirmou que nos países da OCDE não existem emendas individuais e acrescentou: “uma excrescência em si só”.

Não é por coincidência que esses jornais, no domingo passado, abordaram a expansão dos gastos públicos no Brasil. Por questões quer de eficiência, quer morais, é necessário dar um basta no assalto ao Orçamento público. O argumento de que o país precisa gastar mais para estimular o crescimento e promover melhor distribuição de renda não se sustenta diante das evidências. Não caia no canto desafinado da sereia do bloco “Gasto É Vida”. Vida para quem, “cara-pálida”?

Inspirado em Paulo Vanzolini, concluo: os pecados do Carnaval quem paga é a Quaresma.

QOSHE - É Carnaval - Paulo Paiva
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É Carnaval

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09.02.2024

Os conflitos do governo com o Banco Central se amainaram. A inflação caminha para atingir o centro da meta até 2025, e as taxas de juros estão caindo, dando ao governo um alento. O PIB pode surpreender neste ano. Ministro da Fazenda e presidente do Banco Central sairão no mesmo bloco neste Carnaval.

Todavia, o bloco do “Gasto É Vida” continuará sua farra, como se depreende da leitura dos três jornais de ampla circulação nacional, no último domingo – “Folha de S.Paulo”, “Estadão” e “O Globo”.

Em seu editorial, a “Folha”, utilizando índices padronizados do FMI, mostrou que os gastos públicos, no Brasil (2021), como proporção do PIB, chegaram a 43,2%, nos países ricos, em 45,3%, e, nos emergentes, bem........

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