Uma simples olhada no quadro político nacional, sem qualquer análise mais aprofundada, nos remete ao final dos anos 1980, início de 1990, quando Ulysses Guimarães, com sua imensa sabedoria política, profetizou: “Se você acha que este Congresso está ruim, é porque não viu o próximo”.

Sábias palavras de quem percebia que o quadro político nacional – e, reconheçamos, em boa parte do mundo – vinha e continua se deteriorando. Não há mais, numa olhada sem detalhismos, políticos que possamos chamar de “líderes verdadeiros”, e os oportunistas se aproveitam do afastamento dos bons para assumir os postos de comando.

Na política, nos ensinavam os antigos, não existem cadeiras vagas. Se os mais preparados, as lideranças natas, se afastam, os oportunistas ocupam as cadeiras e, com a complacência, quase irresponsabilidade mesmo, do eleitor, não raramente se locupletam nos cargos aos quais se agarram com unhas e dentes.

A situação, que no Brasil Ulysses já previa há quase quatro décadas, não dá sinais de melhoria. Bem ao contrário, as redes sociais vão fabricando, com uma velocidade espantosa, falsas lideranças políticas que, como forma de aparecer, usam do discurso radical, impressionando o eleitor mal-informado e desenhando no horizonte um Brasil e um mundo de conflitos.

Chega a assustar, no caso do Brasil, as chamadas “jovens lideranças” arrastando o debate político para o escorregadio terreno do despreparo ideológico e, em alguns casos, moral. Onde vamos parar com tanto despreparo e oportunismo?

Estamos num ano eleitoral, e não se percebem no horizonte chances de surgimento, ou até renascimento, de lideranças políticas que possam mudar a nossa realidade. O debate político, se é que podemos chamar assim, é desanimador já na disputa municipal, o que nos faz prever um quadro desolador daqui a dois anos nas eleições gerais.

É preciso que os expoentes políticos atuais, Lula e Bolsonaro – imaginem –, percebam o mal que estão fazendo ao país, acelerando a descrença da população e incendiando a radicalização para impedir o surgimento de nomes novos na política nacional. O eleitor, por sua vez, precisa reagir e entender que a vida depende de suas escolhas.

O tempo é curto, mas quem sabe somos capazes de começar a alterar, já nestas eleições, a profecia de Ulysses Guimarães, escolhendo pessoas mais capazes e responsáveis para as administrações municipais.

Paulo César de Oliveira é jornalista

QOSHE - Relembrando Ulysses - Paulo César De Oliveira
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Relembrando Ulysses

11 0
16.04.2024

Uma simples olhada no quadro político nacional, sem qualquer análise mais aprofundada, nos remete ao final dos anos 1980, início de 1990, quando Ulysses Guimarães, com sua imensa sabedoria política, profetizou: “Se você acha que este Congresso está ruim, é porque não viu o próximo”.

Sábias palavras de quem percebia que o quadro político nacional – e, reconheçamos, em boa parte do mundo – vinha e continua se deteriorando. Não há mais, numa olhada sem detalhismos, políticos que possamos chamar de “líderes verdadeiros”, e os oportunistas se aproveitam do afastamento dos bons para assumir os postos de........

© O Tempo


Get it on Google Play