À medida que entramos em 2024, o planeta Terra nos envia um aviso crucial e alarmante, destacando a insustentabilidade do caminho que estamos percorrendo. O observatório europeu Copernicus revelou que janeiro de 2024 estabeleceu um recorde mundial ao superar todos os registros anteriores de temperatura para o mês, evidenciando uma crise climática global sem precedentes.

Em meio a esse cenário alarmante, Minas Gerais, no ano de 2023, viveu um episódio histórico que reflete a urgência da situação climática em um nível mais próximo: a cidade de Araçuaí, situada no Vale do Jequitinhonha, registrou a temperatura mais alta já vista no Brasil, alcançando os impressionantes 44,8°C. Esse recorde não só reafirma a realidade das mudanças climáticas, mas também ressalta os impactos imediatos e graves sobre nossas comunidades, ecossistemas e estilos de vida.

Simultaneamente, a revista “Nature” divulgou uma previsão sombria, sugerindo que até 2050, quase metade da Floresta Amazônica pode enfrentar um colapso irreversível, sem possibilidade de recuperação. Esses alertas vão além de simples dados em relatórios: eles são manifestações tangíveis de uma crise climática que ameaça a existência humana e a biodiversidade planetária.

Como indígena e defensora dos direitos ambientais e dos povos originários, percebo a destruição dos nossos biomas não apenas como uma perda ecológica, mas também como um ataque direto às comunidades que dependem deles para sobreviver e manter sua cultura. As montanhas de Minas Gerais e nossas florestas representam mais do que minérios ou “pulmões do mundo”, elas são nosso lar, nossa fonte de vida e sabedoria, sendo erodidas por interesses econômicos de curto prazo que negligenciam as consequências a longo prazo de suas ações.

O Norte de Minas Gerais sofreu com uma estiagem severa de 11 meses, um reflexo direto das mudanças climáticas, exacerbado pela exploração indiscriminada de minerais, como o lítio, prometido como a energia do futuro, mas a custo do presente. A exploração na Serra do Curral e a corrida pelo lítio no norte do estado ameaçam infligir novos danos ao nosso meio ambiente, ignorando os impactos ambientais e os direitos sagrados dos povos originários que coexistem com a natureza há milênios.

O relatório do Copernicus e o estudo da Nature nos dão um ultimato: é urgente mudar nossa relação com a natureza para evitar consequências cada vez mais severas. A crise climática demanda uma resposta tanto global quanto local, necessitando da ação de cada um de nós. Não podemos depender de soluções milagrosas; ações baseadas em ciência e sabedoria ancestral são urgentes para a proteção de nossa casa comum.

A luta contra as mudanças climáticas e a destruição ambiental também representa uma batalha por justiça social, visto que as comunidades mais impactadas são frequentemente as que menos contribuem para a crise.

É vital escutar as vozes dos povos indígenas e das comunidades locais, verdadeiros guardiões da natureza, que possuem conhecimentos essenciais para a recuperação de nossos ecossistemas e para a construção de um futuro sustentável.

Necessitamos de políticas públicas audaciosas e inovadoras que priorizem a sustentabilidade. Isso inclui investir em energias renováveis, conservação ecológica, restauração e o desenvolvimento de sistemas econômicos que valorizem o bem-estar humano e a natureza acima dos lucros.

Este momento histórico exige ação imediata. Os recordes de temperaturas elevadas e a ameaça às nossas florestas e montanhas gerais servem como lembrete de que o tempo para agir é agora e o ponto de não retorno está mais próximo que nunca.

QOSHE - Até quando vamos ignorar o clamor do planeta e das Gerais? - Célia Xakriabá
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Até quando vamos ignorar o clamor do planeta e das Gerais?

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22.02.2024

À medida que entramos em 2024, o planeta Terra nos envia um aviso crucial e alarmante, destacando a insustentabilidade do caminho que estamos percorrendo. O observatório europeu Copernicus revelou que janeiro de 2024 estabeleceu um recorde mundial ao superar todos os registros anteriores de temperatura para o mês, evidenciando uma crise climática global sem precedentes.

Em meio a esse cenário alarmante, Minas Gerais, no ano de 2023, viveu um episódio histórico que reflete a urgência da situação climática em um nível mais próximo: a cidade de Araçuaí, situada no Vale do Jequitinhonha, registrou a temperatura mais alta já vista no Brasil, alcançando os impressionantes 44,8°C. Esse recorde não só reafirma a realidade das mudanças climáticas, mas também ressalta os impactos imediatos e graves sobre nossas comunidades, ecossistemas e estilos de vida.

Simultaneamente, a revista “Nature” divulgou uma........

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