Um artigo do El País sobre o tema “Turismo busca formas para não morrer do êxito” fez-me pensar no caso português que ainda vai demorar uns anos a chegar ao caso espanhol mas para lá caminha. Quem ler o artigo vai encontrar, por exemplo, o caso de uma praia na Galiza onde só são admitidas cinco mil pessoas. E já não encontra a revolta dos naturais de Barcelona e Madrid por causa da horda de turistas que mijam em qualquer lado porque a discussão já acabou e tiveram que se conformar. Os resistentes, entretanto, morreram e Barcelona e Madrid hoje são cidades turísticas em renovação de fazer inveja a qualquer cidade do mundo.
Na nossa opinião não temos políticos à altura para um décimo daquilo que se faz em Espanha que, mesmo assim, faz manchetes em jornais por crescer de forma descontrolada. Esta questão do aeroporto podia começar por aí. Porquê o aeroporto internacional de Lisboa em Santarém se Santarém não tem um político no Terreiro do Paço que, no mínimo, meta a mão no lixo onde os decisores despejam os restos do almoço? Porquê um aeroporto em Santarém se toda a indústria poderosa do Turismo, da aviação, dos que vivem do grande negócio dos transportes, dos biliões que se movimentam nos negócios de um dia de viagem entre as principais capitais da Europa, vão querer sair de Lisboa e aterrar em Santarém?
Já escrevemos aqui que O MIRANTE toma partido por Santarém e Benavente e certamente se houver o aeroporto estamos do lado dos vencedores. E se Alverca entrar na corrida alargamos o leque de apoios porque O MIRANTE é um grupo de jornalistas que trabalha para uma região.
Mas alguém acredita que sem discutirmos o poder discricionário dos políticos nas questões da coesão territorial alguma coisa sai de Lisboa? Alguma vez alguém vai parar o trânsito na Avenida Gago Coutinho até o mijo dos turistas escorrer pelas valetas até ao Tejo? Alguém tem dúvidas que quem manda no país são os donos da economia? Não chega o que sabemos das relações de José Sócrates com os donos disto tudo? O que aconteceu agora com António Costa não é suficiente para deitarmos a toalha ao chão e esperarmos sentados? Quem tem um sistema de Justiça a bater no fundo, um Serviço Nacional de Saúde de cócoras; greves na rua dos polícias e dos vários agentes da autoridade; as nossas crianças sem professores como se vivêssemos em África; a corrupção a aumentar segundo dados de entidades internacionais, etc, etc, pode ter esperança que vamos passar do oito para o 80? Não é o contrário disso tudo que estamos a viver?
Sem querer brincar com coisas sérias, proponho que o próximo Governo nomeie uma comissão independente para percebermos se é possível construir um aeroporto na cabeça de cada português. Pela facilidade com que deixamos morrer o sistema de justiça permitimos que a autoridade máxima do país esteja na rua a fazer greve; que as pessoas morram nos corredores dos hospitais por falta de médicos e enfermeiros; o sistema de ensino esteja a bater no fundo, as políticas de habitação mudem conforme as estações do ano; acho que está na altura de sairmos da redoma e desafiarmos os nossos políticos para uma missão aparentemente impossível, já que governar e fazer o mínimo dos mínimos pela nossa democracia não está a ser um desafio que valha a pena.
JAE.

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Joaquim Emídio: Já decidimos: queremos um aeroporto na cabeça de cada português

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08.03.2024

Um artigo do El País sobre o tema “Turismo busca formas para não morrer do êxito” fez-me pensar no caso português que ainda vai demorar uns anos a chegar ao caso espanhol mas para lá caminha. Quem ler o artigo vai encontrar, por exemplo, o caso de uma praia na Galiza onde só são admitidas cinco mil pessoas. E já não encontra a revolta dos naturais de Barcelona e Madrid por causa da horda de turistas que mijam em qualquer lado porque a discussão já acabou e tiveram que se conformar. Os resistentes, entretanto, morreram e Barcelona e Madrid hoje são cidades turísticas em renovação de fazer inveja a qualquer cidade do mundo.
Na nossa opinião não temos políticos à altura para um décimo daquilo que se faz em Espanha que, mesmo assim, faz manchetes em jornais por crescer de forma descontrolada. Esta questão do........

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