Montenegro ou Pedro Nuno, qual deles representa a mudança?

Talvez os eleitores tenham sentido que um voto na AD não se traduziria necessariamente na mudança desejada.

Os resultados das eleições de 10 de março colocam-nos perante um enigma difícil de decifrar. O voto dos portugueses traduz ou não traduz uma vontade de mudança? Se olhássemos apenas para o PS, diríamos que sim, sem dúvida. Face à maioria absoluta de 2022, os socialistas perderam cerca de 500 mil votos. Nesse sentido, os eleitores deram claramente um cartão amarelo ao Governo.

Porém, se assumirmos que a alternativa ao PS era a AD, essa vontade de mudança já não parece tão explícita. Talvez haja uma razão para isso: é que Luís Montenegro representa para muita gente o mesmo tipo de político que António Costa. Não é que sejam personalidades idênticas, e obviamente lideram projetos políticos diferentes. Mas Montenegro e Costa têm algumas características em comum que fazem deles políticos do mesmo género: são ambos homens do aparelho, hábeis, bons a negociar e a movimentar-se nos bastidores, com pouca vocação para cortar a direito.

Por outras palavras, talvez os eleitores tenham sentido que um voto na AD não se traduziria necessariamente na mudança desejada.

Já de Pedro Nuno Santos não se pode dizer o mesmo. Na própria noite eleitoral, ao assumir a derrota, o líder do PS disse uma coisa extraordinária: “A nossa vida começa hoje. O tempo da tática na política connosco acabou e comigo acabou”.

Ou seja, Pedro Nuno não só fez um corte assumido com o legado de António Costa, que criticou de forma explícita (“procuraremos recuperar os portugueses descontentes com o PS”) como enjeitou essa imagem de político “tacticista”. Nesse sentido, embora pertença ao mesmo partido, Pedro Nuno Santos é um tipo de líder mais diferente de António Costa do que Luís Montenegro.

Terá sido isso, em parte, que confundiu os resultados. Os portugueses desejavam mudança, sim. Não queriam que o PS continuasse no poder. Mas ao mesmo tempo, em certo sentido Pedro Nuno representava uma mudança de estilo mais palpável do que Montenegro. E depois, claro, houve esse fenómeno dos que desejavam uma ruptura ainda mais radical, e votaram no Chega. No fundo queriam agitar as águas, mas acabaram por contribuir para que elas só ficassem ainda mais turvas.

Os resultados das eleições de 10 de março colocam-nos perante um enigma difícil de decifrar. O voto dos portugueses traduz ou não traduz uma vontade de mudança? Se olhássemos apenas para o PS, diríamos que sim, sem dúvida. Face à maioria absoluta de 2022, os socialistas perderam cerca de 500 mil votos. Nesse sentido, os eleitores deram claramente um cartão amarelo ao Governo.

Porém, se assumirmos que a alternativa ao PS era a AD, essa vontade de mudança já não parece tão explícita. Talvez haja uma razão para isso: é que Luís Montenegro representa para muita gente o mesmo tipo de político que António Costa. Não é que sejam personalidades idênticas, e obviamente lideram projetos políticos diferentes. Mas Montenegro e Costa têm algumas características em comum que fazem deles políticos do mesmo género: são ambos homens do aparelho, hábeis, bons a negociar e a movimentar-se nos bastidores, com pouca vocação para cortar a direito.

Por outras palavras, talvez os eleitores tenham sentido que um voto na AD não se traduziria necessariamente na mudança desejada.

Já de Pedro Nuno Santos não se pode dizer o mesmo. Na própria noite eleitoral, ao assumir a derrota, o líder do PS disse uma coisa extraordinária: “A nossa vida começa hoje. O tempo da tática na política connosco acabou e comigo acabou”.

Ou seja, Pedro Nuno não só fez um corte assumido com o legado de António Costa, que criticou de forma explícita (“procuraremos recuperar os portugueses descontentes com o PS”) como enjeitou essa imagem de político “tacticista”. Nesse sentido, embora pertença ao mesmo partido, Pedro Nuno Santos é um tipo de líder mais diferente de António Costa do que Luís Montenegro.

Terá sido isso, em parte, que confundiu os resultados. Os portugueses desejavam mudança, sim. Não queriam que o PS continuasse no poder. Mas ao mesmo tempo, em certo sentido Pedro Nuno representava uma mudança de estilo mais palpável do que Montenegro. E depois, claro, houve esse fenómeno dos que desejavam uma ruptura ainda mais radical, e votaram no Chega. No fundo queriam agitar as águas, mas acabaram por contribuir para que elas só ficassem ainda mais turvas.

A Vida e a Lei

A autoridade: da sua falta, dos que a fomentam e dos que aproveitam da penúria dela

Não é por coincidência, e menos ainda por total incapacidade analítica, que, todos os dias, os media promovem a image

Na Linha da Frente

Keinemusik, a febre berlinense chega a Portugal

É uma nova forma de ouvir batidas mais intensas de uma forma suave e até doce na forma como entra no ouvido. São esta

Por Uma Democracia de Qualidade

E agora?

Não acredito em nenhum partido político que apresente um programa de governo de cem ou duzentas páginas e não apresen

Rédea Solta

O PS não pode transformar-se num atrelado

Deixar Mortágua bipolarizar a sociedade portuguesa é diminuir o PS e torná-lo num mero fornecedor de votos.

Técnico

Uma questão de peso

Para lá dos usos legítimos no tratamento da diabetes e obesidade, o semaglutido tem sido utilizado com propósitos mer

Conta Corrente

O cimento de uma gelatina de morango

Não creio que seja essa a vocação do PS. O protesto. O nicho. O umbigo como a medida de todas as coisas. A incapacida

Supremo Tribunal dos EUA suspende lei do Texas que permite deter emigrantes

Milhares de migrantes que atravessam para os a fronteira dos México para os EUA e entregam-se à polícia de fronteiras

Editorial

Montenegro ou Pedro Nuno, qual deles representa a mudança?

Talvez os eleitores tenham sentido que um voto na AD não se traduziria necessariamente na mudança desejada.

Jogos Olímpicos. Andebol português afastado

A seleção nacional de andebol teve o apuramento na mão, mas falhou por culpa própria

1

Kate Middleton e William irão falar “quando acharem que estão prontos”, diz fonte próxima

2

ASAE. Atividade de cinco lojas suspensa

3

Boa Morte vai treinar a seleção da Guiné-Bissau

4

Nuno Júdice. O poeta que pariu a sua némesis

5

Tensões no Mar do Sul da China

6

TGV Português ou a Ignorância em Alta Velocidade

09:56

A autoridade: da sua falta, dos que a fomentam e dos que aproveitam da penúria dela

09:52

Keinemusik, a febre berlinense chega a Portugal

09:47

E agora?

09:45

O PS não pode transformar-se num atrelado

09:41

Uma questão de peso

09:38

O cimento de uma gelatina de morango

QOSHE - Montenegro ou Pedro Nuno, qual deles representa a mudança? - José Cabrita Saraiva
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Montenegro ou Pedro Nuno, qual deles representa a mudança?

8 8
19.03.2024

Montenegro ou Pedro Nuno, qual deles representa a mudança?

Talvez os eleitores tenham sentido que um voto na AD não se traduziria necessariamente na mudança desejada.

Os resultados das eleições de 10 de março colocam-nos perante um enigma difícil de decifrar. O voto dos portugueses traduz ou não traduz uma vontade de mudança? Se olhássemos apenas para o PS, diríamos que sim, sem dúvida. Face à maioria absoluta de 2022, os socialistas perderam cerca de 500 mil votos. Nesse sentido, os eleitores deram claramente um cartão amarelo ao Governo.

Porém, se assumirmos que a alternativa ao PS era a AD, essa vontade de mudança já não parece tão explícita. Talvez haja uma razão para isso: é que Luís Montenegro representa para muita gente o mesmo tipo de político que António Costa. Não é que sejam personalidades idênticas, e obviamente lideram projetos políticos diferentes. Mas Montenegro e Costa têm algumas características em comum que fazem deles políticos do mesmo género: são ambos homens do aparelho, hábeis, bons a negociar e a movimentar-se nos bastidores, com pouca vocação para cortar a direito.

Por outras palavras, talvez os eleitores tenham sentido que um voto na AD não se traduziria necessariamente na mudança desejada.

Já de Pedro Nuno Santos não se pode dizer o mesmo. Na própria noite eleitoral, ao assumir a derrota, o líder do PS disse uma coisa extraordinária: “A nossa vida começa hoje. O tempo da tática na política connosco acabou e comigo acabou”.

Ou seja, Pedro Nuno não só fez um corte assumido com o legado de António Costa, que criticou de forma explícita (“procuraremos recuperar os portugueses descontentes com o PS”) como enjeitou essa imagem de político “tacticista”. Nesse sentido, embora pertença ao mesmo partido, Pedro Nuno Santos é um tipo de líder mais diferente de António........

© Jornal i


Get it on Google Play