O comércio internacional é um xadrez instável. As suas fases estão emparelhadas com o ciclo económico das várias economias. Mas a expansão da “economia-mundo” não é uma simples soma da dinâmica das economias nacionais que a compõem. Por exemplo, é preciso juntar o surgimento de novas tecnologias e novos sectores, variáveis que adicionam a sua própria incerteza.

A minha observação aqui é que tudo fica ainda mais volátil se à própria evolução competitiva dos países se acrescenta o ciclo geopolítico, isto é, se levarmos em conta o “regresso da história”.

Afinal a globalização mudou. Antes era vendida como um campo plano e alargado; agora o ambiente de negócio continua internacionalizado, mas está a ficar cada vez mais compartamentalizado ao voltarem a erguer-se barreiras e um clima de recriminação.

E tem especial interesse que isso esteja a acontecer com grande incidência em relação a produtos complexos essenciais à transição ecológica. Por exemplo, os EUA já têm tarifas de 27,5% à importação de carros eléctricos de origem chinesa e a UE considera elevar de 10% para 15%.

A última controvérsia é a China ser fonte de uma avalanche de exportações que põem em causa a viabilidade de várias indústrias de ponta no Ocidente. A palavra de ordem é “overcapacity”, terminologia empregue pela Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen.

Essa tal “sobreprodução” é apontada aos carros eléctricos, painéis solares, baterias, etc. E seria explicada por subsídios públicos por parte das autoridades chinesas. Mas o que é “sobreprodução”, e por que razão só surge agora?!

Os próprios EUA aprovaram em 2022 um pacote de apoios aos sectores da economia limpa no valor de quase 800 mil milhões de dólares, e ainda a semana passada alocaram seis mil milhões de dólares à construção de uma só siderurgia de semicondutores.

E quando Carlos Tavares, o português aos comandos do grupo automóvel Stellantis (Peugeot, Citroen, Fiat, etc.), apontou o dedo à “ofensiva” de carros chineses, não apresentou queixa das décadas de subsídios massivos à instalação de fábricas ocidentais no seu mercado e lhes abriu o mercado doméstico.

Parece que toda a gente pratica política industrial, mas que só aos países emergentes lhes é pedido que o façam apenas do lado da procura. Antes era-nos dito que tínhamos de ir a todo o vapor para as tecnologias de baixo carbono, mas agora isso é só se ainda forem os países do costume a liderá-las.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

QOSHE - Capacidade excedentária - Sandro Mendonça
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Capacidade excedentária

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12.04.2024

O comércio internacional é um xadrez instável. As suas fases estão emparelhadas com o ciclo económico das várias economias. Mas a expansão da “economia-mundo” não é uma simples soma da dinâmica das economias nacionais que a compõem. Por exemplo, é preciso juntar o surgimento de novas tecnologias e novos sectores, variáveis que adicionam a sua própria incerteza.

A minha observação aqui é que tudo fica ainda mais volátil se à própria evolução competitiva dos países se acrescenta o ciclo geopolítico, isto é, se levarmos em conta o “regresso da história”.

Afinal a globalização mudou. Antes era vendida como um........

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