Este domingo, depois das 20 horas, tudo o que se escreveu ou disse sobre o resultado das eleições servirá para embrulhar pataniscas que a gataria agradecerá. As empresas de sondagens, apertadas com a crise do negócio, lá “inventaram” uma percentagem generosa de indecisos que, em caso de voltarem a errar nas previsões, poderão ser o “visto gold” para escaparem ao desastre.

Ainda assim, comentadores e jornalistas insistem em criar cenários a partir de números díspares, insistem em transformar o desejo em realidade ou a realidade em desejo, há gostos e talentos para tudo.

Na campanha eleitoral que hoje termina destaco alguns paradoxos. O de Pedro Nuno Santos poder ganhar as eleições tendo passado por problemas e assumido erros que, em condições normais, o condenariam ao ostracismo durante uns valentes anos. O paradoxo de o PS surgir nas ruas, depois do comício do Porto, com uma energia que parece própria de quem deseja conquistar o poder e não de quem o tem há tantos anos.

O paradoxo de ver António Costa, acabado de cair politicamente e com um processo pendente na justiça, com um ânimo incomparável com os ex-primeiros-ministros que Luís Montenegro trouxe para a campanha (com a exceção de Pedro Santana Lopes, sempre em forma). O paradoxo de perceber que Luís Montenegro, se ganhar as eleições, só a ele próprio, e aos seus mais próximos, poderá agradecer – a maioria dos trunfos eleitorais (Cavaco, Durão e até Passos) revelaram-se personagens de um filme de Série B, ressentidos, presos no passado, ultramontanos.

O paradoxo de ver Luís Montenegro ganhar todos os debates, menos o último… e de Pedro Nuno Santos ganhar o último, perdendo ou empatando todos os outros. O paradoxo de o Chega fugir da rua quando é nos caminhos ínvios que se sustenta. O paradoxo de o mundo estar a desabar e de nenhum candidato parecer preocupado com o tema.

O paradoxo de ver Marcelo Rebelo de Sousa em silêncio, num ato de dramático contorcionismo psicanalítico – já tenho saudades de si, Sr. Presidente. O paradoxo curioso de ver o líder da IL a tratar por tu Mariana Mortágua e Rui Tavares. O paradoxo de se falar na possibilidade de extinção do PCP e do crescimento do Chega quando se comemoram os 50 anos do 25 de Abril. O paradoxo de a larga maioria dos partidos sem assento parlamentar serem de direita.

Se já é domingo e não leu o que escrevi, não vale a pena fazê-lo. Já sabe o que eu não sei no preciso momento em que escrevo. Não faço ideia de quem ganhará, tenho as minhas suspeitas. Mas sei que o jogo prosseguirá na segunda-feira e existirão mortos e feridos políticos. Há gente à espera da sua oportunidade e com a faca aguçada e cheia de apetite, há os que no domingo irão à missa e até os que arriscaram tarot, bacará e astrologia, há um país à espera e apostas de casino, há quem prepare as malas para fugir e quem prepare a marmita para mais uma segunda-feira de trabalho.

QOSHE - Ou me lê hoje ou não vale a pena - Luís Osório
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Ou me lê hoje ou não vale a pena

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08.03.2024

Este domingo, depois das 20 horas, tudo o que se escreveu ou disse sobre o resultado das eleições servirá para embrulhar pataniscas que a gataria agradecerá. As empresas de sondagens, apertadas com a crise do negócio, lá “inventaram” uma percentagem generosa de indecisos que, em caso de voltarem a errar nas previsões, poderão ser o “visto gold” para escaparem ao desastre.

Ainda assim, comentadores e jornalistas insistem em criar cenários a partir de números díspares, insistem em transformar o desejo em realidade ou a realidade em desejo, há gostos e talentos para tudo.

Na campanha eleitoral que hoje termina destaco alguns paradoxos. O de Pedro Nuno Santos poder ganhar as eleições tendo passado por problemas e........

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