Portugal é pequeno, economicamente. Também é pequeno geograficamente e em população mas isso é a sua natureza e é imutável. Porém, numa perspetiva empresarial, este país é cheio de potencial, tem recursos e uma cultura empresarial ímpares que lhe deveria conferir maior ousadia.

Mas o tecido empresarial português está muito retalhado. Está cheio de empresas autónomas, com propriedade individual singular, muito separadas operacionalmente, concorrendo entre si em muita coisa, em quase todas as áreas.

Em termos macro, note-se que 95% das empresas em Portugal têm um volume de negócios inferior a dez milhões de euros. Esta dimensão e fragmentação do espaço empresarial português só o enfraquece, só o fragiliza, perdendo capacidade negocial na compra e na venda. Toda este retalho empresarial nacional é, acima de tudo, uma duplicação custos de estrutura e um ineficaz ritmo de mudança de ajuste, operacional, comercial, legislativo e fiscal.

O desenho empresarial está demasiado fragmentado para ser competitivo à escala global. A razão pela qual manifesto esta minha reflexão é porque os números são muito evidentes e atrofiadores do enriquecimento nacional.

Mas reparemos em algumas conclusões do relatório “EMPRESAS EM PORTUGAL – INE” na parte em que se a refere “grupos e entidades”:

“Em 2019, exerciam atividade em Portugal 15 530 grupos de empresas… que integravam 35299 entidades… 85,5% dos grupos de empresas eram constituídos por 10 ou menos entidades…”; “Tendo em conta os principais rácios económicos, as sociedades pertencentes a um grupo evidenciaram um desempenho superior e apresentaram uma dimensão média cerca de 8 vezes superior às restantes”; “A produtividade aparente do trabalho e a remuneração média anual das sociedades pertencentes a um grupo foram superiores às registadas pelas restantes sociedades”; “Considerando os principais rácios em análise, o fator de pertença a grupo revelou-se decisivo em todos os setores…”.

Em suma, não são muitos os grupos de empresas, na sua maioria são constituídos por poucas empresas, apresentam melhores desempenhos e pagam melhor aos trabalhadores. Portanto, não fomentar as fusões é um absurdo estratégico porque o futuro será a continuidade da fragilidade empresarial.

Como pode ser possível aumentar salários às pessoas se pertencem a empresas relativamente pequenas, desagrupadas e, ainda que tenham potencial de crescimento, não sabem como crescer, dinâmica e significativamente, neste mundo global?

Se unidos, os empresários e as suas empresas poderiam adotar estratégias de gestão integrada para compras de matérias-primas, processos administrativos, comunicações e logística, poderiam traçar sinergias comerciais internacionais e, sem perder o poder de gestão e protagonismo, os negócios podem estar perfeitamente autónomos, em produto, marca e marketing.

A oportunidade é fantástica, as sinergias entre empresas são enormes, mas tudo isto se os empresários adotarem uma mentalidade “out of the box”. Uma mentalidade “avant-garde” que permita 1) a junção de capital em holdings, 2) uma concentração de serviços partilhados, 3) garanta uma gestão operacional autónoma e 4) uma gestão executiva profissional.

Se repararmos, e a título de exemplo, grupos como Sonae, Amorim, Cofina, Visabeira, tendem a ser isso mesmo. Grupos de empresas que não perdem a identidade operacional, marca e produto, e são capazes de fazer uma gestão integrada das entidades envolvidas.

E quando falo de fusão, não tem de ser entre empresas do mesmo sector, não. Se bem que isso é ainda melhor, creio que não essa particularidade não deve ser fator decisivo.
Tem sim, por parte das empresas, existir contas organizadas e acionistas/sócios disponíveis, e por parte do Governa da Nação, fortes incentivos a esta estratégia.

Talvez valesse a pena um debate à escala nacional, com o patrocínio dos Ministérios da Economia e Finanças, para abordar questões como:

Por que razão em Portugal não se funde? Por que razão as empresas pequenas de pequenos empresários não se juntam? Por que razão, apesar de haver tantas associações empresariais, a manta de retalhos não é simplificada? Por que razão é que, havendo tanto know-how em consultadoria para fusões, os empresários não desenham modelos com os quais se sintam confortáveis, juntos? O que é preciso para estimular esta dinâmica empresarial nacional?

Sei que este puzzle de empresas só torna o nosso PIB uma fraqueza mundial. Para mim, esta é a verdadeira revolução empresarial que deveria ocorrer em Portugal.
Sem algo assim não enriqueceremos as pessoas, não aumentaremos o poder de compra dos cidadãos e, dentro de 15 anos, vamos voltar a constatar – continuamos a empobrecer, apesar de trabalharmos muito. Precisamos de muita coragem, senhores dirigentes. Muita coragem e ousadia.

QOSHE - Portugal precisa urgentemente de fusões - José Miguel Marques Mendes
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Portugal precisa urgentemente de fusões

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06.02.2024

Portugal é pequeno, economicamente. Também é pequeno geograficamente e em população mas isso é a sua natureza e é imutável. Porém, numa perspetiva empresarial, este país é cheio de potencial, tem recursos e uma cultura empresarial ímpares que lhe deveria conferir maior ousadia.

Mas o tecido empresarial português está muito retalhado. Está cheio de empresas autónomas, com propriedade individual singular, muito separadas operacionalmente, concorrendo entre si em muita coisa, em quase todas as áreas.

Em termos macro, note-se que 95% das empresas em Portugal têm um volume de negócios inferior a dez milhões de euros. Esta dimensão e fragmentação do espaço empresarial português só o enfraquece, só o fragiliza, perdendo capacidade negocial na compra e na venda. Toda este retalho empresarial nacional é, acima de tudo, uma duplicação custos de estrutura e um ineficaz ritmo de mudança de ajuste, operacional, comercial, legislativo e fiscal.

O desenho empresarial está demasiado fragmentado para ser competitivo à escala global. A razão pela qual manifesto esta minha reflexão é porque os números são muito evidentes e atrofiadores do enriquecimento nacional.

Mas reparemos em algumas conclusões do........

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