Após dez subidas consecutivas de juros, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu finalmente manter a política monetária. A decisão é bem-vinda, mas peca por tardia. A teimosia em continuar a subir as taxas de referência este ano, enquanto a economia europeia dava sinais claros de enfraquecimento, será lembrada como um erro do BCE.
Não é a primeira vez que o Banco Central anda “atrás da curva” ou, dito de outra forma, atrasado face aos acontecimentos. Começou tarde a subir taxas e também demorou a perceber quando parar.
A inflação já vinha a recuar há meses, porque os fatores que a induziam e que não eram particularmente de índole monetária se foram dissipando, e custa a compreender como decisores tão experimentados e bem informados tardaram em identificar o que estava a acontecer. Provavelmente, a explicação estará no processo de tomada de decisão do Conselho de Governadores e na tendência excessiva do BCE para fazer política para além da monetária.
Os dados mostram a economia europeia em recessão, que se poderá aprofundar no trimestre em curso, a curva de rendimentos continua negativamente inclinada, mesmo com a subida recente de yields nas maturidades mais longas, e há uma forte desaceleração no crédito, acompanhada de condições de acesso mais apertadas.
O comportamento negativo da economia europeia não tem só explicação na atuação do BCE, mas é incompreensível que tenha subido taxas nos últimos meses quando os dados já davam a entender que tornar a política monetária mais restritiva só iria acelerar o ciclo recessivo.