No lançamento de 2024, muitos analistas escolheram destacar os riscos políticos e económicos dos Estados Unidos como os de maior importância este ano. Essa foi a justificação principal para as previsões de um dólar mais fraco. De facto, a política monetária da Fed estará prestes a inverter e isso já foi mais do que sinalizado.

Dado que as taxas de juro do dólar subiram mais do que as do euro neste ciclo monetário, argumentava-se que também irão baixar mais e mais depressa. Por outro lado, a situação das contas públicas dos EUA tem-se deteriorado, com boa parte do crescimento recente alicerçado em políticas fiscais.

Há cada vez mais dúvidas acerca da sustentabilidade da dívida americana, sobretudo num contexto de taxas de juro reais positivas. Por último, das eleições de novembro poderão emergir diversos resultados, nomeadamente um presidente imprevisível e radicalizado, bem como um Congresso paralisado.

Na Europa, o contexto tem sido menos valorizado, mas é particularmente desafiante. Desde logo, a economia europeia encontra-se em pior situação do que a dos EUA. O crescimento em 2023 foi incipiente, com a Alemanha em recessão, e há poucas perspetivas de melhoria significativa. Do lado da política monetária, é cada vez menos certo que o BCE corte taxas menos vezes do que a Fed, já que o estado da economia é pior e o fim dos programas de auxílio pandémico são monetariamente restritivos.

Finalmente, e não menos importante, a preocupação da União Europeia em relação à Ucrânia é notória e crescente. Do lado dos EUA, percebe-se uma vontade cada vez menor em sustentar o esforço de guerra e uma eventual vitória de Trump irá, provavelmente, acelerar esse processo.

A União Europeia já percebeu a necessidade de alocar verbas significativas, que certamente seriam bastante importantes para a sua economia.

O chanceler alemão disse esta semana, antes de uma deslocação a Washington, que “a Alemanha não é suficientemente grande para compensar a diferença no caso de os Estados Unidos não entregarem armas à Ucrânia e é esse, creio eu, o verdadeiro perigo que enfrentamos”. Scholz não poderia ser mais claro. Além disso, há que ter em mente que as opiniões dentro da União sobre o apoio à Ucrânia não são unânimes, o que aumenta os riscos de atrito entre os países membros.

É, talvez, por todos estes motivos que a perspetiva de um dólar mais fraco este ano já esteja a ser alvo de revisão.

QOSHE - Riscos de lá e de cá - Filipe Garcia
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Riscos de lá e de cá

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09.02.2024

No lançamento de 2024, muitos analistas escolheram destacar os riscos políticos e económicos dos Estados Unidos como os de maior importância este ano. Essa foi a justificação principal para as previsões de um dólar mais fraco. De facto, a política monetária da Fed estará prestes a inverter e isso já foi mais do que sinalizado.

Dado que as taxas de juro do dólar subiram mais do que as do euro neste ciclo monetário, argumentava-se que também irão baixar mais e mais depressa. Por outro lado, a situação das contas públicas dos EUA tem-se deteriorado, com boa parte do crescimento recente alicerçado em........

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