Em 2023, o dólar teve o pior ano desde o início da pandemia, embora tenha apenas desvalorizado cerca de 3,5% face ao euro de janeiro a dezembro. Apesar de alguma volatilidade durante o ano, o Eur/Usd manteve-se lateral, oscilando entre $1,05 e $1,13 desde dezembro de 2022, numa faixa de preços que, historicamente, não é considerada ampla.

Quanto ao Eur/Usd, entre os vários fatores que explicam as variações das taxas de câmbio, o mercado tem vindo a dar maior importância nos últimos anos aos diferenciais de taxas de juro. O mesmo poderá voltar a acontecer em 2024, mas provavelmente de forma menos exclusiva.

O facto de as políticas monetárias da Reserva Federal (Fed) e do BCE terem permanecido relativamente sincronizadas desde a pandemia tem ajudado à lateralização do câmbio. Por agora, o mercado continua a acreditar que os dois bancos centrais terão atuações semelhantes, cortando taxas em cerca de 150 pontos base até dezembro. Assim, por esta via, grandes movimentos no Eur/Usd só deverão ocorrer se os bancos centrais adotarem estratégias distintas.

Este ano será marcado pelas eleições nos EUA. Apesar de ocorrerem apenas em novembro, será importante observar todo o processo eleitoral, a começar pelas “primárias”. Há riscos de instabilidade política e social nos EUA, e tanto a Casa Branca como a Fed sabem que o eleitor também “vota com a carteira” e poderão tentar influenciar o ciclo económico. Até agora, o mercado não está a colocar no dólar o prémio de risco que poderia ser justificado, tendo em conta as particularidades desta eleição e que podem justificar uma desvalorização em 2024.

As sondagens realizadas junto analistas de mercado apontam para uma ligeira queda do dólar em direção a $1,12 em dezembro, uma mudança não muito significativa. A tendência de antecipar um dólar mais fraco a longo prazo tem sido constante, impulsionada por métricas de paridade de poder de compra e preocupações sobre os persistentes défices comerciais e orçamentais – os chamados “défices gémeos” – que suscitam dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida dos EUA a longo prazo.

Num outro âmbito, há quem argumente que o mundo está num processo de desdolarização que resultará numa forte desvalorização da moeda norte-americana. Contudo, com todos os defeitos que o dólar e os EUA possam ter, não existe uma verdadeira alternativa. Além do seu papel central como meio de pagamento, liquidez, aceitabilidade e reserva de valor, é em dólares que a quase totalidade dos preços internacionais continua a ser expressa.

QOSHE - Dólar 2024 - Filipe Garcia
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Dólar 2024

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12.01.2024

Em 2023, o dólar teve o pior ano desde o início da pandemia, embora tenha apenas desvalorizado cerca de 3,5% face ao euro de janeiro a dezembro. Apesar de alguma volatilidade durante o ano, o Eur/Usd manteve-se lateral, oscilando entre $1,05 e $1,13 desde dezembro de 2022, numa faixa de preços que, historicamente, não é considerada ampla.

Quanto ao Eur/Usd, entre os vários fatores que explicam as variações das taxas de câmbio, o mercado tem vindo a dar maior importância nos últimos anos aos diferenciais de taxas de juro. O mesmo poderá voltar a acontecer em 2024, mas provavelmente de forma menos exclusiva.

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