1 - Há uma coisa que une o território e que não se vê. Não está explícita em placas, nem em proclamações em letra cuidada afixadas em lugares públicos. Trata-se de um profundo amor, tal como ele é, intangível, mas presente em cada passo que se dá num chão que uniu comunidades, que o utilizaram, que o fizeram delas, que o cultivaram, que o acarinharam e que, de certa forma, o veneraram. A Serra da Gardunha é um desses lugares de profunda pertença, que une concelhos, cidades, vilas e muitas aldeias que a abraçam e a olham com o carinho e o respeito devido a quem sempre cuidou e protegeu essas comunidades. A Gardunha é, pois, uma identidade partilhada e só quem vive no seu regaço consegue compreender o fascínio sentido por este lugar tão especial. São milhares os que têm as raízes cravadas bem fundo nesta geografia, linhagens que vêm bem de longe, antes dos nossos avós. A Gardunha também tem sido palco de gigantescos fogos florestais que lhe têm ceifado, pouco a pouco, a vida. Apesar de todas as vãs promessas que se foram fazendo, nada impediu as tragédias, a última delas em 2017 e que ainda está bem presente na memória de todos. É evidente que estas descidas permanentes ao inferno têm de ter um fim. Infelizmente, não se podem evitar todos os fogos florestais, mas pode fazer-se muito mais na prevenção, sobretudo nos decisivos processos que evitam que os incêndios tenham potencial para atingir proporções impossíveis de combater, conseguindo percorrer a Gardunha e territórios adjacentes em rédea solta. Não basta prometer após cada tragédia que agora é que aprendemos com os erros e que eles não se voltarão a repetir. O problema é que não só não aprendemos tudo o que já devíamos ter aprendido, como ainda continuamos a dar o flanco por onde as tragédias abrem caminho, apesar de ser indiscutível que há uma acrescida preocupação e um caminho desbravado nos últimos anos, quer ao nível do combate, quer ao nível da prevenção. O Jornal do Fundão dá conta nesta edição da chegada do Programa de Reordenamento e Gestão da Paisagem da Serra da Gardunha, Alvelos e Moradal, que tem como principal objetivo reduzir a frequência e a intensidade dos incêndios florestais através da construção de uma paisagem mais diversa. A ideia é tornar os territórios mais resilientes, através da alteração dos modelos de ocupação e da gestão do solo. Assim, o Fundão quer criar uma zona tampão na linha da cumeada Alcongosta - Souto da Casa - Castelejo, prolongando-a até São Vicente da Beira, já no concelho de Castelo Branco. A ideia passa, ainda, por criar mais área para agricultura permanente, que ajude a criar os indispensáveis mosaicos agroflorestais que ajudem a conter o avanço do fogo. O desejo que fica é o de sempre: Que as intenções acabem onde devem acabar: Na ação.

2 - Paira uma névoa sobre as instituições democráticas. Agora é o Presidente da República que está envolto numa polémica. A Presidência da República, como símbolo supremo do país, da confiança devida às instituições e da coesão nacional deve, tal como os outros pilares da democracia, como o Governo e a Justiça, manter-se arredada destas fontes de ruído. Este ambiente de permanente descrédito e de ataque às instituições sabemos bem a quem interessa. Se a democracia é um pacto entre todos, que todos o saibam respeitar, a começar pelos exemplos que se dão. Para evitarmos dissabores e... Falsos salvadores.

QOSHE - Duas notas pré-natalícias - Nuno Francisco
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Duas notas pré-natalícias

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06.12.2023

1 - Há uma coisa que une o território e que não se vê. Não está explícita em placas, nem em proclamações em letra cuidada afixadas em lugares públicos. Trata-se de um profundo amor, tal como ele é, intangível, mas presente em cada passo que se dá num chão que uniu comunidades, que o utilizaram, que o fizeram delas, que o cultivaram, que o acarinharam e que, de certa forma, o veneraram. A Serra da Gardunha é um desses lugares de profunda pertença, que une concelhos, cidades, vilas e muitas aldeias que a abraçam e a olham com o carinho e o respeito devido a quem sempre cuidou e protegeu essas comunidades. A Gardunha é, pois, uma identidade partilhada e só quem vive no seu regaço consegue compreender o fascínio sentido por este lugar tão especial. São milhares os que têm as raízes cravadas bem fundo nesta geografia, linhagens que vêm bem de........

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