O Bordalo, artista plástico, fez uma campanha, onde publicitou um medicamento que se chama empatia. Achei a campanha fantástica, na medida em que, o que mais se vê, atualmente, é exatamente isso: perdeu-se a empatia.

Tivemos uma pandemia há pouco tempo, onde a maioria de nós esteve em casa, sem saber de que “bicho” estava a fugir. Este sofrimento, em vez de nos ter tornado mais humanos, parece que nos tornou mais frios e insensíveis.

Se tirarmos um dia para ver, ler e ouvir notícias, por um lado, observamos muito sofrimento, e, por outro, observamos falta de empatia. Valorizar a morte de uns, em prol da morte de outros, é o quê?

Um jornalista e um comentador de TV, um dia destes, em horário nobre, fizeram piadas acerca da Miss Portugal, que é uma mulher trans. Gargalharam, dizendo que com ela nenhum dos dois casava. Será que, se eles se colocassem no lugar das mulheres e homens trans que todos os dias sofrem violência, gargalhariam? Se já não sentem empatia pelo próximo, não deviam estar sentados naquelas cadeiras! O pior é que não são únicos…

Ouvi, logo após o ataque terrorista do Hamas, algo que me fez muito sentido: “Estamos em competição pelo que é capaz de provocar mais sofrimento ao outro.” Yuval Harari.

Nos conflitos que existem no mundo atualmente, a capacidade de provocar sofrimento é ficar “à frente” na guerra. Quanto mais sanguinários são, mais fortes são? Os relatos das guerras deste século descrevem isso. Erradamente, achava que isso tinha ficado no século passado.

Se há um abusador (violência de todo o tipo) há sempre uma vítima, alguém que sofre. Esta pessoa fica muito mais fraca e mais propícia a identificar-se com movimentos extremistas. Este facto torna a violência uma “pescadinha de rabo na boca”. Hoje vítima, amanhã a cometer atrocidades, físicas e verbais. E desta forma, a pescadinha nunca “larga o rabo”.

Muitos de nós agem e não pensam, disparamos sem ver para onde vão as balas. Noto que os que “fazem mal aos outros” raramente são punidos.

Esta falta de empatia faz algo muito grave: justifica a violência.

Israel justifica a barbaridade que está a cometer neste momento, na Faixa de Gaza, pelo ataque terrorista do Hamas. Num mundo empático nenhuma violência pode ser justificada.

Ouvi num canal de TV um apresentador a justificar, sem empatia, agressões graves que reclusas estavam a sofrer na prisão, pelo crime que as levou à prisão. A psicóloga desse programa validou a opinião do apresentador. Dente por dente?

A empatia começa a ser treinada na infância.

Quantos pais se preocupam com o desenvolvimento moral dos filhos, questionando os profissionais da creche e da escola? A maioria quer saber de notas e avaliações de competências, sem se preocuparem com o mais importante. Um bom desenvolvimento moral vai fazer crescer a capacidade empática dos nossos filhos. Eles usam os seus educadores como espelho. Por exemplo um pai ou mãe que ofende outros condutores na estrada, está a modelar os filhos para fazerem o mesmo. Todos têm responsabilidade no mundo. Que sementes plantamos?

Se a empatia é a capacidade de antever o que é que o outro vai sentir, não percebo os deputados que se abstém ou votam contra em votos de protesto contra guerras ou invasões. Gente sem empatia, não nos pode representar.

“Neste momento, as cabeças dos israelitas e dos palestinos estão cheias de dor. Sem espaço para ver a dor do outro. É então o momento para os estrangeiros que não estão mergulhados nesta terrível dor, ajudarem a manter a paz.” Yuval Harari

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A banalização da violência mata a empatia!

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09.11.2023

O Bordalo, artista plástico, fez uma campanha, onde publicitou um medicamento que se chama empatia. Achei a campanha fantástica, na medida em que, o que mais se vê, atualmente, é exatamente isso: perdeu-se a empatia.

Tivemos uma pandemia há pouco tempo, onde a maioria de nós esteve em casa, sem saber de que “bicho” estava a fugir. Este sofrimento, em vez de nos ter tornado mais humanos, parece que nos tornou mais frios e insensíveis.

Se tirarmos um dia para ver, ler e ouvir notícias, por um lado, observamos muito sofrimento, e, por outro, observamos falta de empatia. Valorizar a morte de uns, em prol da morte de outros, é o quê?

Um jornalista e um comentador de TV, um dia destes, em horário nobre, fizeram piadas acerca da Miss Portugal, que é uma mulher trans. Gargalharam, dizendo que com ela nenhum dos dois casava. Será que, se eles se colocassem no lugar das mulheres e........

© JM Madeira


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