«Se esperarmos o melhor das pessoas, podemos redesenhar radicalmente, a nossa democracia e os nossos estados sociais».Rutger Bregman, em “Humanidade – Uma História de Esperança”

Algures no início do século XX um paradoxo ganhou alguma popularidade: Quando um copo está a meio, qual é a melhor maneira de o descrever, está meio cheio ou meio vazio?

Ambas as respostas estão certas, do ponto de vista racional. Mas se tivermos de escolher, a nossa escolha é emocional e dá algumas pistas sobre o modo como encaramos o futuro: alguém mais pessimista queixa-se de que o copo já/ainda está meio vazio, quem é mais otimista valorizará o facto de já/ainda estar meio cheio. Desde então, passou como parábola para vários tipos de discurso (económicos, político, pessoal), muitas vezes com um propósito motivacional.

Gostamos de marcar o tempo, fazer balanços, marcar um antes e um depois. Achamos demasiadas vezes que não conseguimos alcançar os objetivos que traçámos há cerca de um ano. Mas pensando bem, se calhar estamos a olhar só para a parte vazia do copo.

Olhando para o que escrevi nessa altura há objetivos que renovo, há outros que evoluíram e se tornaram mais ambiciosos em função do que já foi alcançado, outros que perderam importância. Todos serviram para manter a determinação em lutar por um mundo melhor para mais gente.

Mas olhando para o Mundo, apesar das guerras que nos preocupam e têm forte impacto, também económico, em todos nós, apesar da pobreza que ainda nos rodeia, das dificuldades que encontramos, há motivos para olhar para a parte cheia do copo.

De há três ou quatro anos para cá, o jornalista Kiko Llaneras, do El País, faz uma lista de boas notícias, verificáveis. São coisas que mostram que o mundo vai melhorando, muito mais do que nos querem fazer crer. Se nenhum tipo de prioridade, partilho algumas dessas boas notícias que também pode usar como ponto de partida para construir a sua própria lista de razões para estar e ser mais feliz:

A Pandemia fez-nos mais altruístas, mais disponíveis para ajudar alguém que não conhecemos;

A esperança de vida no mundo aumentou e é hoje de 73 anos (mais 12 anos do que há quatro décadas);

Há mais mulheres nos parlamentos, no mundo. São hoje mais de um quarto, o dobro de 1990;

Na saúde, há várias boas notícias: melhores medicamentos, vacinas mais eficazes e mais baratas, evitámos mais de 21 milhões de morte por VIH, desde 1996;

As energias renováveis crescem em importância e eficácia e cobrem cerca de um quinto das necessidades. Eram um décimo há quatro décadas. Em Portugal representam quase 60% das necessidades de eletricidade;

O Mundo é menos desigual (ainda demasiado, 55% da riqueza mundial está nas mãos de 10% da população), e muito mais inclusivo, metade da população mundial considera que a sua cidade é um bom lugar para pessoas LGBT.

Por último, provou-se cientificamente aquilo que já sabíamos: Conversar, falar cara a cara, mesmo discordando, torna-nos mais felizes.

Aos leitores que concordando ou discordando vão lendo estas crónicas envio os meus votos pra 2024: para além da saúde, sucesso pessoal e financeiro, desejo-lhe um pouco mais de otimismo.

Comece já amanhã. Se fizer parte das suas tradições brindar à chegada do novo ano, aproveite, com prazer, o ano que chega com a mesma boa disposição com que saboreará esse copo meio cheio.

E sorria. Sorria sempre muito ao longo do ano que agora começa.

Tenha muitos dias felizes!

QOSHE - Um copo a meio - José Júlio Curado
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Um copo a meio

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30.12.2023

«Se esperarmos o melhor das pessoas, podemos redesenhar radicalmente, a nossa democracia e os nossos estados sociais».Rutger Bregman, em “Humanidade – Uma História de Esperança”

Algures no início do século XX um paradoxo ganhou alguma popularidade: Quando um copo está a meio, qual é a melhor maneira de o descrever, está meio cheio ou meio vazio?

Ambas as respostas estão certas, do ponto de vista racional. Mas se tivermos de escolher, a nossa escolha é emocional e dá algumas pistas sobre o modo como encaramos o futuro: alguém mais pessimista queixa-se de que o copo já/ainda está meio vazio, quem é mais otimista valorizará o facto de já/ainda estar meio cheio. Desde então, passou como parábola para vários tipos de discurso (económicos, político, pessoal), muitas vezes com um propósito motivacional.

Gostamos de marcar o tempo, fazer balanços, marcar........

© JM Madeira


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