Hoje, assistimos a um crescente desejo de flexibilidade laboral. Neste contexto, as pessoas pressionam cada vez mais as suas organizações a adaptarem os horários de trabalho ao nível da energia natural de cada um. Esta abordagem é conhecida por Chronoworking.

Diz a Forbes que as organizações devem estar atentas a esta nova tendência que visa adaptar os horários de trabalho ao ritmo circadiano do indivíduo e às horas ideais de produtividade, em vez da adoção do modelo tradicional nine-to-five. O termo foi originalmente cunhado pela jornalista britânica Ellen Scott na sua newsletter Working on Purpose. Scott acredita que reavaliar quando trabalhamos é uma evolução natural das discussões em torno do bem-estar no local de trabalho e prevê que 2024 será o ano em que o Chronoworking ganhará vigor.

Segundo Michael Breus, citado pela BBC, existem quatro cronótipos distintos: 55% das pessoas atingem o pico de produtividade a meio do dia (entre as 10h e as 14h); 15% são mais aptas a começar de manhã cedo; 15% trabalham melhor pela noite fora; 10% têm um ritmo circadiano errático, que pode variar de dia para dia. Apesar destas variações, o tradicional dia de trabalho de 8 horas (9h-17h/18h) criado no séc. XIX, continua a ser a norma. Consequentemente, muitas pessoas são obrigadas a trabalhar fora das suas horas ideais, impactando negativamente o seu desempenho profissional e bem-estar. Para colmatar esta situação, algumas optam por dormir uma pequena sesta durante o dia, outras consomem elevadas quantidades de cafeína para manter os níveis de energia, outras ainda usam técnicas de gestão do stress, como o Mindfulness.

O Chronoworking não é novo, mas tem atraído mais atenção, fruto da ascensão do teletrabalho. Os colaboradores, especialmente os mais jovens, gostam da ideia de adaptar os seus horários de trabalho às horas em que são mais produtivos, mas também as organizações beneficiam desta abordagem. Permitir que as pessoas trabalhem quando estão no seu auge pode melhorar o desempenho e o bem-estar, com efeitos positivos na retenção das mesmas. Todavia, sendo considerada ainda uma abordagem pouco convencional para muitas organizações, noutras é mesmo impraticável, como aquelas que são orientadas para o serviço ao cliente ou as que estão condicionadas por fatores externos, como as horas da Bolsa. Mesmo para aquelas que não têm este tipo de constrangimentos, a introdução do Chronoworking envolve alguns desafios. Por muito que a abordagem conceda às pessoas autonomia e a possibilidade de terem um dia de trabalho não linear, os membros da equipa precisam de horas cruzadas para reuniões e projetos partilhados. Necessitam também de estar cientes dos horários de trabalho individuais de cada colega. As chefias podem ainda ter dificuldade em supervisionar o desempenho individual e em garantir que são líderes disponíveis. Felizmente, existem formas de contornar estas questões, tais como exigir que todo o staff esteja em linha durante o horário central (ex.: das 11h às 15h) ou utilizar software para gravar reuniões e partilhá-las com os membros da equipa ausentes.

Citando Daniel Pink, autor best-seller do New York Times: “Cada um de nós tem um cronótipo – um padrão pessoal de ritmos circadianos que influencia a nossa fisiologia e psicologia.” Logo, a chave para tirar o máximo partido de cada pessoa poderá passar por nos permitirem realizar o nosso trabalho quando nos for mais conveniente.

QOSHE - O nosso Relógio Biológico - João Bettencourt Craveiro
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O nosso Relógio Biológico

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13.03.2024

Hoje, assistimos a um crescente desejo de flexibilidade laboral. Neste contexto, as pessoas pressionam cada vez mais as suas organizações a adaptarem os horários de trabalho ao nível da energia natural de cada um. Esta abordagem é conhecida por Chronoworking.

Diz a Forbes que as organizações devem estar atentas a esta nova tendência que visa adaptar os horários de trabalho ao ritmo circadiano do indivíduo e às horas ideais de produtividade, em vez da adoção do modelo tradicional nine-to-five. O termo foi originalmente cunhado pela jornalista britânica Ellen Scott na sua newsletter Working on Purpose. Scott acredita que reavaliar quando trabalhamos é uma evolução natural das discussões em torno do bem-estar no local de trabalho e prevê que 2024 será o ano em que o Chronoworking ganhará vigor.

Segundo Michael Breus, citado pela BBC, existem........

© JM Madeira


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