Em Portugal, quando o Governo anuncia, sorridente, uma qualquer importante mudança, o país corre aos abrigos. De onde vem este radical ceticismo nacional não é difícil de perceber. O português considera que o Estado prossegue finalidades que lhe são próprias, insondáveis, talvez metafísicas, que requerem sacrifícios prestados a divindades alarves, como era o caso de Quetzalcoatl para os astecas ou Baal para os fenícios, precursoras remotas da Autoridade Tributária, da EMEL e do pessoal dos radares.

Sejam quais forem as maquinações do Estado, certo é que os seus interesses são atavicamente percebidos como radicalmente contrários aos dos cidadãos. O Estado, quando verte os seus melífluos dizeres, interagindo pedagogicamente com o cidadão-contribuinte, sabe que está a tratar com um pequeno sabido, habilidoso e contumaz, para não dizer ingrato e obtuso, embora esperto. Já o cidadão, do Estado só espera saque, abuso, injustiça e arbitrariedades. Num ponto, no entanto, ocorre certa convergência de pontos de vista: Estado e cidadão riem-se do direito. É inacessível aos segundos (a não ser que tenham departamento jurídico) e, portanto, incapaz de dissuadir o primeiro de reincidir na sua multissecular vileza.

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QOSHE - Conto de Natal - Sérgio Sousa Pinto
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Conto de Natal

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01.01.2024

Em Portugal, quando o Governo anuncia, sorridente, uma qualquer importante mudança, o país corre aos abrigos. De onde vem este radical ceticismo nacional não é difícil de perceber. O português considera que o Estado prossegue finalidades que lhe são próprias, insondáveis, talvez metafísicas, que requerem sacrifícios prestados a divindades alarves, como era o caso de........

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