O PS prepara-se para iniciar uma “nova” etapa na sua vida. E, a avaliar pelo frissom mediático, Pedro Nuno Santos será o novo líder socialista e o país parece disposto a entregar-se deleitoso ao seu charme. A máquina de propaganda socialista, essa, prepara o futuro de Costa fazendo esquecer o seu passado. E no Largo do Rato, no lugar de balanço e responsabilidade abundam hashtags do tipo #VaiFicarTudoBem com emojis de arco-iris à frente. Nada de novo, portanto, debaixo de céus enevoados.

A escolha de Pedro Nuno Santos assegura, para usar a expressão do muito estimável Álvaro Beleza, numa entrevista ao Jornal Económico, a fidelidade à matriz do PS. Percebe-se que não era essa a intenção de Beleza, mas a verdade é que tem toda a razão: Pedro Nuno Santos é, numa primeira mirada, uma mistura apurada de Sócrates e Costa. De Sócrates herdou o bom gosto por fatos de bom corte, a altivez, a arrogância e as qualidades comunicacionais, de Costa herdou a incompetência e o ardil. Dos dois, herdou a lata; ou, num português mais cínico, a desfaçatez.

Não quero jucidializar a política. Concordo com Costa e com Pedro Nuno Santos: à justiça o que é da justiça, à política o que é da política. Porém, há uma avaliação política dos casos de justiça que não se pode deixar de fazer. Sócrates foi o Primeiro-Ministro mais sombrio da história do Portugal democrático. Digo apenas sombrio para não me alargar nos qualificativos, que resultariam mais depressa numa condenação minha por difamação, do que de Sócrates por corrupção. Respeito muito a presunção de inocência, mas o rasto de destruição da credibilidade dos políticos e do edifício democrático está aí para avaliação. Costa foi o Primeiro-Ministro mais incompetente da história do Portugal democrático. Mas acresce a isso o facto de o rasto de destruição da credibilidade dos políticos e do edifício democrático levado a cabo por Sócrates nunca ter merecido uma verdadeira reparação histórica – para usar o termo que agora se usa – por parte de Costa. Nem nas acções nem, sequer, nas intenções. Para o PS, o que interessa, o que sempre interessou e o que interessará é o controlo e o exercício do poder e, passe a redundância menor, o controlo da narrativa.

Antes de ir ao que interessa sublinhar, há, todavia, três considerações que o momento presente exige. Três considerações, que são ao mesmo tempo três estupefacções: a primeira, prende-se com o facto do Ministério Público ter preferido a PSP à PJ para as buscas e investigação, coisa que não só não é normal, como, na ausência de uma explicação cabal, abre portas a um mundo de suspeitas e especulações, que são profundamente danosas do normal funcionamento do Estado democrático. A explicação por aí aventada da falta de recursos oscila entre o ridículo e o gravoso: a falta de recursos, em matéria tão crítica para o estado de direito, ou é hilariamente inexplicável ou é resultado de dolo e/ou incompetência. Inclino-me para o último par.

A segunda, prende-se com uma linha de defesa dos arguidos já despudoradamente largada ao vento, não só pelos advogados de defesa dos arguidos e pelos “comentadores” do regime, mas também pelos mais altos dignitários da Nação e do partido do poder, e que passa pela acusação e desacreditação do Ministério Público, configurando, sobretudo por se tratar de políticos, um ataque perigoso - mas não inédito - à separação de poderes.

E a terceira é a ilibação de António Costa, nalguns casos incensando-o mesmo e projectando-lhe um radioso futuro pela frente (e, a este propósito, compreendendo o institucionalismo da declaração, não deixo de me espantar com o que me pareceram loas excessivas por parte do Sr. Presidente da República quando pela primeira vez se dirigiu ao país sobre esta crise).

Ligando todos os pontos, é bom não esquecer que aquilo de que estamos a tratar é, a fazer fé no que se vai conhecendo, alegadamente, de uma rede corrupta e de tráfico de influências. E isto com epicentro no gabinete do Primeiro-Ministro. Costa, dizem-me, é um homem sério e não sabia de nada do que, alegadamente, se passava no gabinete ao lado do seu. Costa é um homem sério e nunca soube de nada do que se passava na Câmara Municipal de Lisboa, no gabinete de Manuel Salgado. Costa é um homem sério e nunca soube de nada, nunca viu nada, nunca desconfiou de nada do que se passava no Governo de que fez parte e foi número 2, chefiado por José Sócrates. Costa é um homem sério, mas também é um homem ingénuo, cego e surdo. E estas características são paradoxais quando conjugadas com a argúcia, sagacidade, inteligência e killer instinct que, vulgarmente, se lhe atribui.

Sobre este modo do PS lidar com o dinheiro e o poder públicos, modo que parece inscrito indelevelmente no seu ADN, nunca se ouviu, com raríssimas excepções rapidamente afastadas, uma voz peremptória de repúdio. Pedro Nuno Santos prepara-se para fazer o mesmo: avançar para uma nova narrativa com os mesmos protagonistas de sempre.

Mas dizia que não era isso que queria sublinhar. O que quero sublinhar é que há outro traço de identidade do PS inscrito indelevelmente no seu ADN: o da incompetência. Uma incompetência que os portugueses pagam no SNS colapsado, na escola pública apodrecida, na segurança abandonada à providência, nos serviços administrativos paralisados.

E um bom exemplo dessa incompetência é precisamente Pedro Nuno Santos. Pedro Nuno Santos é o homem que durante anos a fio geriu o dossier TAP por whatsapp. Pedro Nuno Santos é o homem cuja melhor ideia que teve para a ferrovia foi comprar carruagens velhas ao estrangeiro. Pedro Nuno Santos é o homem que quis que Portugal não honrasse os seus compromissos com os credores, num assomo inspirado por Varoufakis. Pedro Nuno Santos é um radical marxista, que aparecerá bem vestido e bem falante nos próximos meses aos portugueses, al as suas responsabilidades.

É certo que o PS é um partido apodrecido pelos casos de corrupção e nepotismo, mas Pedro Nuno Santos é o rosto da sua incompetência. É bom que os portugueses não se esqueçam disso e que a oposição saiba exigir a justa prestação de contas.

Pedro Gomes Sanches escreve de acordo com a antiga ortografia

QOSHE - Nada indulta o PS, por mais fatos Armani que use e Maseratis que oculte - Pedro Gomes Sanches
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Nada indulta o PS, por mais fatos Armani que use e Maseratis que oculte

12 54
20.11.2023

O PS prepara-se para iniciar uma “nova” etapa na sua vida. E, a avaliar pelo frissom mediático, Pedro Nuno Santos será o novo líder socialista e o país parece disposto a entregar-se deleitoso ao seu charme. A máquina de propaganda socialista, essa, prepara o futuro de Costa fazendo esquecer o seu passado. E no Largo do Rato, no lugar de balanço e responsabilidade abundam hashtags do tipo #VaiFicarTudoBem com emojis de arco-iris à frente. Nada de novo, portanto, debaixo de céus enevoados.

A escolha de Pedro Nuno Santos assegura, para usar a expressão do muito estimável Álvaro Beleza, numa entrevista ao Jornal Económico, a fidelidade à matriz do PS. Percebe-se que não era essa a intenção de Beleza, mas a verdade é que tem toda a razão: Pedro Nuno Santos é, numa primeira mirada, uma mistura apurada de Sócrates e Costa. De Sócrates herdou o bom gosto por fatos de bom corte, a altivez, a arrogância e as qualidades comunicacionais, de Costa herdou a incompetência e o ardil. Dos dois, herdou a lata; ou, num português mais cínico, a desfaçatez.

Não quero jucidializar a política. Concordo com Costa e com Pedro Nuno Santos: à justiça o que é da justiça, à política o que é da política. Porém, há uma avaliação política dos casos de justiça que não se pode deixar de fazer. Sócrates foi o Primeiro-Ministro mais sombrio da história do Portugal democrático. Digo apenas sombrio para não me alargar nos qualificativos, que resultariam mais depressa numa condenação minha por difamação, do que de Sócrates por corrupção. Respeito muito a........

© Expresso


Get it on Google Play