Não adianta insistir em chamar fascista a André Ventura: ele não é fascista. Eu sei o que é um fascista e não é o caso de Ventura. Quanto mais não seja, porque lhe falta substrato intelectual para isso, senão também convicções. Fascistas — ou, pelo menos, saudosistas do Estado Novo — são, sim, muitos dos seus seguidores, aquele povo imenso de que já aqui falei, que em 24 de Abril de 1974 vivia perfeitamente instalado e obediente com a situação e uma semana depois estava nas ruas a jurar que o povo unido nunca mais seria vencido e todos eles eram, afinal, uma vasta maioria silenciosa de socialistas e comunistas de várias espécies. Nunca, de facto, desapareceram, apenas não encontraram representação à altura desde então — e devemos isso à direita democrática, nomeadamente ao CDS. Mas se querem saber onde é que eles estão, o que pensam e o que desejam para o país, se têm saudades do cheiro abjecto de um fascista português, basta ler os comentários dos leitores do “Observador”: está lá tudo, estão lá todos, em todo o seu inconfundível esplendor. Mas a esquerda, igualmente instalada nos seus dogmas, acha que para travar o Chega basta chamar-lhe fascista e logo acrescentar os dois outros inevitáveis adjectivos do mantra: racista e xenófobo. E depois sentam-se, à espera de que as palavras bastem. É como o combate à seca no Algarve: só quando a água está na iminência de faltar nas torneiras é que percebem que o problema não se resolve só com discursos, relatórios e estudos sucessivos.

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QOSHE - A pregação de Santo André - Miguel Sousa Tavares
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A pregação de Santo André

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20.01.2024

Não adianta insistir em chamar fascista a André Ventura: ele não é fascista. Eu sei o que é um fascista e não é o caso de Ventura. Quanto mais não seja, porque lhe falta substrato intelectual para isso, senão também convicções. Fascistas — ou, pelo menos, saudosistas do Estado Novo — são, sim, muitos dos seus seguidores, aquele povo imenso de que já aqui falei, que em 24 de Abril de 1974 vivia perfeitamente instalado e obediente com a........

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